Chineses ficam isolados na OPA sobre a ES Saúde

Prazo para outras ofertas terminou à meia-noite. Accionistas têm até 10 de Outubro para vender na OPA.

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O Hospital Beatriz Ângelo (em Loures, gerido em regime de PPP) é uma das 18 unidades da ES Saúde Daniel Rocha

Os chineses da Fosun, que controlam 80% da Fidelidade, são a única empresa que está neste momento na corrida ao controlo da Espírito Santo Saúde (ES Saúde) através do mercado de capitais. A seguradora, a última a avançar com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), após os mexicanos da Ángeles e a José de Mello Saúde, viu a acabar o prazo para apresentação de ofertas concorrentes sem que novos protagonistas surgissem no mercado.

O prazo da oferta da Fidelidade – o período em que os accionistas podem vender acções na OPA – termina no final da próxima semana, ao início da tarde de 10 de Outubro.

Depois de o Grupo José de Mello Saúde anunciar que desistia da oferta, o grupo Ángeles também deixou cair esta semana a proposta para ficar com o controlo accionista da ES Saúde. Os mexicanos decidiram não rever em alta a sua oferta (4,5 euros por acção) e, como este preço já tinha sido superado pela oferta da Fidelidade ( que avançou com 4,82 euros por título), anunciaram que saiam da corrida à ES Saúde.

Depois disso, ainda poderiam ter aparecido pedidos de registo à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) até ao final desta sexta-feira, mas a Fidelidade acabou por ficar isolada na corrida. Até à meia-noite, nada no site da CMVM foi publicado a divulgar ao mercado novas movimentações.

A proposta dos chineses da Fosun coloca o valor da ES Saúde em 460,5 milhões de euros, uma oferta de 50 milhões acima daquilo a que os mexicanos se propuseram pagar inicialmente quando lançaram a OPA, a primeira das três ofertas de que a ES Saúde foi alvo desde Agosto.

A Fidelidade pretende ficar com pelo menos 50,01% do capital, o que permite controlar a empresa que pertenceu ao GES. Em bolsa estão dispersos 49% do capital da ES Saúde. Os outros 51% são detidos pela Espírito Santo Health Care Investment (ESHCI), que por sua vez é controlada em 55% do capital pela Rioforte (actualmente em fase de gestão controlada no Luxemburgo), em 27,26% pelo Novo Banco e em 17,74% pela Espírito Santo Financial Group (ESFG).

Os accionistas que quiserem vender acções na OPA da Fidelidade têm agora cinco dias úteis para o fazer. O resultado será conhecido dia 13. Os chineses da Fosun não deverão fazer diligências junto dos accionistas maioritários da ES Saúde, apurou o PÚBLICO junto de fonte ligada ao processo.

Os norte-americanos da Unitedhealthcare (donos da Amil) já manifestaram interesse na ES Saúde, tentando um investida directa sobre a Rioforte. Mas a proposta, não vinculativa, ficou pelo caminho. A Rioforte admitiu vender a sua participação, mas disse preferir um processo mais concorrencial, como o da OPA.

A administração da dona de unidades como o hospital da Luz (Lisboa) e o hospital de Loures (gerido em regime de parceria público-privada) considerou a oferta da Fidelidade “aceitável” e disse haver algumas vantagens na junção de forças com os chineses. O reforço das áreas dos seguros de saúde foi um dos pontos vincados pela gestão liderada por Isabel Vaz, que também considerou positivo o facto de a compra permitir a aposta na medicina tradicional e na “medicina preventiva ou ocupacional”.

Quando, na semana passada, os chineses subiram o preço da sua oferta para 4,82 euros por acção da ES Saúde, o presidente executivo da Fidelidade, Jorge Magalhães Correia, dizia ao PÚBLICO: “Não nos basta ser uma empresa que vende seguros”. O objectivo é passar a ter “uma oferta integral em seguros de saúde, hospitais, clínicas, medicina ocupacional e preventiva e noutros serviços de saúde e assistência”, reforçou.

Os mexicanos do grupo Ángeles detêm uma posição de 6,97% na ES Saúde. Se quiserem vender na OPA, poderão conseguir uma mais-valia significativa face ao preço a que compraram as acções. Em curso por parte da CMVM está uma investigação ao grupo Ángeles por suspeita de abuso de informação privilegiada pela compra de títulos da ES Saúde até à véspera de os mexicanos terem anunciado a sua OPA sobre a empresa. O PÚBLICO questionou a CMVM sobre em que ponto está a investigação, mas não obteve resposta.

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