Carta aberta aos pilotos do grupo TAP

O Movimento não TAP os Olhos declara-se inequivocamente contra esta greve marcada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil.

O Movimento não TAP os Olhos, que tem estado a lutar contra a privatização da TAP, tem vindo a demonstrar, ao longo destes últimos meses, que é possível, de uma forma séria, democrática e com o apoio incondicional da grande maioria dos portugueses, denunciar os falsos argumentos e as verdadeiras intenções do Governo, e impedir a privatização da TAP Portugal.

A verdade é que o Governo de Passos Coelho não só não tem sido sério ao longo de todo este processo (quando anunciou a privatização total da empresa, em 2011, indo mais longe do que os compromissos assumidos com a troika, a TAP não tinha problemas de tesouraria) como deixou de ter o pretexto do memorando da troika e, em fim de mandato, deixou de ter legitimidade política para tomar a decisão de privatizar qualquer empresa pública.

Para provar a má-fé do Governo basta dizer que, ao mesmo tempo que reconhece a importância estratégica da empresa, a necessidade de manter o hub de Lisboa, e se escudou na defesa do interesse dos emigrantes para travar, através de uma “requisição civil” ilegal, a greve contra a privatização, decretada pela plataforma de todos os sindicatos, pretende agora vendê-la ao desbarato a uma empresa estrangeira, com um “caderno de encargos” inquinado de ilegalidades, sem ter em conta minimamente o interesse nacional.

Se fosse necessário invocar um testemunho insuspeito, em Fevereiro deste ano, e já em pleno processo de privatização, o presidente da administração da TAP veio dizer, preto no branco, o seguinte: “Há empresas que têm de ser privatizadas ou fecham. Não é o nosso caso, que é sustentável. Tivemos resultados positivos nos últimos cinco anos — ou nos últimos oito, se esquecermos 2008.”

Foi isto que a plataforma dos sindicatos defendeu quando anunciaram a greve de Dezembro, que o Governo sabotou, dividindo os trabalhadores, seduzindo com promessas demagógicas alguns sindicatos. Não é isso que defendem agora os pilotos com a anunciada greve de dez dias. De facto, esta greve anunciada não é contra a privatização da TAP. Pelo contrário, é uma greve a favor de uma privatização que lhes permita retirar miríficos dividendos da privatização da companhia nacional, nomeadamente 10% a 20% das acções da empresa ou a devolução das diuturnidades suspensas pela Lei do Orçamento Geral do Estado.

Com esta atitude, os pilotos não só demonstram um total desprezo pelos seus colegas da manutenção, de cabine e de terra, pretendendo vir a ser os seus patrões, como estão a dar pretextos ao Governo para diabolizar o direito à greve, pôr a opinião pública contra os trabalhadores e reforçar a sua desculpa para a urgência em vender a TAP a qualquer preço.

Por isso, o Movimento não TAP os Olhos declara-se inequivocamente contra esta greve marcada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, que considera autista, por ser uma quebra de solidariedade com os restantes trabalhadores, e porque em nada contribui para credibilizar o protesto de milhões de portugueses que, em Portugal e na diáspora portuguesa, querem que a TAP se mantenha nas mãos do Estado.

Pelos motivos acima referidos, o Movimento não TAP os Olhos apela a todos os pilotos do grupo TAP que cancelem esta greve, por ser inoportuna, politicamente suicida e que, sem descurar os seus direitos legítimos, se batam, isso sim, contra a privatização da empresa, que, além de privar Portugal de um instrumento estratégico para a ligação do universo lusófono espalhado por vários continentes, seria ruinosa para a nossa economia e para o futuro dos trabalhadores da empresa. 

Realizador

Sugerir correcção
Ler 3 comentários