BCE admite usar medidas extraordinárias para controlar risco de deflação

Embora as medidas convencionais de política monetária não estejam esgotadas, Mario Draghi diz que o BCE pode combiná-las com novas medidas expansionistas.

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Depois da luz verde da Alemanha, Draghi já fala em estímulos RALPH ORLOWSKI/Reuters

Apesar de manter as taxas de juro de referência inalteradas, o Banco Central Europeu (BCE) deixou claro nesta quinta-feira que está disposto a ir mais longe para controlar os riscos de deflação, admitindo vir a combinar medidas convencionais de política monetária com instrumentos “não convencionais” para estimular a economia da zona euro, em que se inclui um programa de compra de activos.

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do conselho de governadores do BCE, o presidente da instituição, Mario Draghi, disse que o órgão “foi unânime” quanto ao compromisso de recorrer a medidas extraordinárias de forma a responder aos “riscos de um período prolongado de baixa inflação”.

A posição de Draghi surge depois de Jens Weidmann, presidente do banco central alemão e membro do conselho de governadores, admitir publicamente que fosse avaliada a eficácia de um programa de estímulos através da compra de activos para puxar pelo crescimento económico do conjunto da moeda única – uma medida expansionista que Mario Draghi disse ter sido discutida no encontro desta quinta-feira.

Se, até aqui, Draghi tinha repetido que o banco central da zona euro está pronto para agir, desta vez, foi mais explícito sobre esse caminho, ao afirmar a unanimidade do conselho de governadores em torno de um compromisso: o de que a pressão em baixa sobre a inflação poderá ter de ser controlada não apenas com medidas convencionais, mas “também” por novas medidas expansionistas.

Draghi referiu-se várias vezes a um programa de compra de activos, chegando a referir o impacto do programa de estímulos da Reserva Federal dos EUA na maior economia do mundo. O programa da Fed, disse, “tem um efeito imediato no crédito, porque chega à economia através dos mercados de capitais”.

Notando uma “recuperação moderada da economia da zona euro”, o BCE decidiu na reunião desta quinta-feira manter a taxa de juro de referência inalterada nos 0,25%. A taxa de inflação voltou a diminuir em Março, recuando para um valor mínimo em cinco anos, com a variação homóloga dos preços a recuar para 0,5% (contra 0,7% em Fevereiro).

Mario Draghi – acompanhado na conferência de imprensa pelo português Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE – lembrou que “um longo período de inflação baixa é em si mesmo um risco”. Mas reafirmou o compromisso de que a instituição vai continuar a “monitorizar de perto os desenvolvimentos [macroeconómicos] e avaliar todos os instrumentos à disposição”.

Draghi tem enfatizado que a promessa de que as taxas de juro não subirão durante um longo período de tempo seria suficiente para evitar que a região da moeda única caia num processo de deflação, ou seja, de descida sustentada dos preços.

No campo das medidas convencionais, o BCE tem ainda margem para voltar a descer a taxa de juro de referência (de financiamento), colocando-a num valor ainda mais próximo de zero, ou mesmo de reduzir para terreno negativo a taxa de juro dos depósitos, que actualmente está em 0%.

O PÚBLICO viajou a convite da Comissão Europeia

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