Autoeuropa pesa menos de 1% nos investimentos da Volkswagen

Governo diz que “não há qualquer indicação” de que o plano do grupo para Portugal esteja em risco.

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Fábrica portuguesa é uma das 130 do grupo em todo o mundo Daniel Rocha

Mergulhado numa crise, o Grupo Volkswagen anunciou que vai repensar todos os investimentos como forma de cortar custos para lidar com o escândalo das emissões. A decisão lançou dúvidas sobre o futuro da Autoeuropa, a fábrica do grupo em Portugal e uma das empresas no país que mais exporta. Apesar da importância na economia portuguesa, o plano de investimentos na unidade de produção em Palmela representa menos de 1% dos investimentos globais do grupo até 2019 e o Governo diz não ter indicações de que o projecto na fábrica esteja em risco.

No final do ano passado, a multinacional alemã apresentou um plano de investimentos para os cinco anos seguintes no valor de 85,6 mil milhões de euros, que seriam aplicados em fábricas, em equipamentos, em novos modelos de automóveis e no desenvolvimento de “tecnologias amigas do ambiente”. O objectivo era tornar o fabricante alemão no líder mundial do sector. 

Já o investimento que o grupo contratualizou com o Estado português, num acordo assinado também no ano passado, ronda os 677 milhões de euros ao longo de cinco anos, o que correspondente a apenas 0,8% do total. O montante aplicado em Portugal serve para adaptar a Autoeuropa à produção dos novos modelos da Volkswagen.

O Governo diz que o investimento continua em execução e que não há, por ora, sinais de que o cenário venha a mudar. “Não há qualquer indicação por parte da Volkswagen que vise comprometer o investimento contratualizado”, indicou ao PÚBLICO o Ministério da Economia. Do lado do grupo, ainda não foi divulgada informação concreta sobre quais serão os cortes. A fábrica em Palmela, que chegou a produzir modelos com os motores fraudulentos, é uma das 130 que a multinacional alemã tem em todo o mundo, das quais 111 estão na Europa.

A Alemanha era o destino preferencial dos investimentos da Volkswagen: ficariam naquele país mais de metade dos cerca de 64 mil milhões de euros que seriam gastos em propriedades, fábricas e equipamentos. As repercussões da crise na multinacional sentem-se sobretudo neste país, onde estão algumas das maiores unidades de produção. Só a fábrica em Wolfsburg, onde o grupo tem sede, emprega perto de 60 mil pessoas. 

A administração está a ser pressionada para salvaguardar postos de trabalho, numa empresa em que os trabalhadores e o Estado têm voto na matéria. O conselho de supervisão do grupo – que tem de aprovar as decisões mais importantes – inclui dois membros nomeados pelo estado federal da Baixa Saxónia, que é dono de 20% das acções, às quais corresponde a mesma percentagem de direitos de voto. Por outro lado, metade dos 20 membros do conselho são representantes dos trabalhadores, incluindo sindicalistas. 

O presidente executivo, Matthias Mueller, disse esta semana, num encontro que reuniu 20 mil trabalhadores e que ainda decorre, que a empresa pretende continuar a ter empregos seguros, mas também avisou que as medidas de contenção não serão “indolores”. 

O grupo espera arrancar no início de 2016 com o processo de reparação dos carros afectados, uma operação de grande escala, que a multinacional conta terminar no final do próximo ano e que cujos custos ainda não são conhecidos, mas serão uma parte significativa da pesada factura a pagar pela fraude.

O plano de recolha e reparação dos veículos tem de ser primeiro aprovado pelas autoridades alemãs, antes de ser enviado para os restantes países e de começar a ser posto em prática. 

“Enviámos soluções técnicas à Autoridade Federal de Transportes Motorizados. Se forem aceites, encomendamos os componentes. Se tudo correr como planeado, podemos começar em Janeiro com as reparações”, explicou, nesta quarta-feira, Matthias Mueller, ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung

O Governo alemão já apelou a que o processo seja célere. “A minha expectativa é que [a autoridade de transportes] analise este relatório rápida e exaustivamente”, afirmou o ministro dos Transportes, Alexander Dobrindt, citado pela Reuters. O governante acrescentou que o regulador do sector ainda poderá colocar questões à empresa sobre a solução apresentada.

Nos vários países em que o grupo opera, incluindo em Portugal, as marcas já deram os primeiros passos para chegar aos proprietários de veículos, disponibilizando uma funcionalidade online que permite saber se os carros estão afectados. Os vários modelos das quatro grandes marcas – Volkswagen, Audi, Seat e Skoda – implicarão intervenções diferentes nas oficinas. Em todos os casos, serão necessárias alterações de software. Mas, para as motorizações 1.6, são precisas mudanças nos motores, o que só acontecerá a partir de Setembro e implica mais custos para o grupo.

A empresa também fez questão de dizer que as investigações internas para apurar responsabilidades não serão rápidas. “Especulações ou relatórios de progresso vagos e preliminares não servem a ninguém”, afirmou o novo presidente do conselho, Hans Dieter Poetsch. “Por isso, vai demorar algum tempo até termos resultados factuais e de confiança”.

 

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