Alexandre Soares dos Santos sai da presidência da Jerónimo Martins

“Vontade pessoal de desacelerar o ritmo” ditou decisão, que se tornará efectiva a 1 de Novembro. Grupo dono do Pingo Doce agradece ao seu “líder histórico”.

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A saída de Soares dos Santos foi anunciada num comunicado enviado hoje à CMVM Enric Vives-Rubio

O presidente do conselho de administração, principal accionista e ex-presidente executivo do grupo Jerónimo Martins, Elísio Alexandre Soares dos Santos, vai deixar o cargo já a partir do dia 1 de Novembro. Em comunicado enviado na noite desta terça-feira ao regulador do mercado de capitais, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o grupo de retalho e indústria informa que o empresário renuncia ao cargo a partir dessa data “por razões pessoais”.

“No momento em que a Jerónimo Martins toma conhecimento da decisão de afastamento do seu líder histórico, e em nome dos mais de 60 mil colaboradores do grupo em Portugal, na Polónia e na Colômbia, manifestamos ao Sr. Soares dos Santos a nossa mais profunda gratidão pela visão estratégica e ousadia com que construiu, ao longo dos últimos 45 anos, o que a Jerónimo Martins é hoje”, afirma o grupo em comunicado.

Numa nota enviada à agência Lusa, Soares dos Santos justifica a saída com a sua “vontade pessoal de desacelerar o ritmo”, uma vontade que “não é nova” e que já antes “expressara publicamente”.

“Trabalho há 56 anos e tenho 79 anos de idade. Dediquei ao grupo Jerónimo Martins o melhor do meu conhecimento e das minhas capacidades e não escondo o orgulho que sinto com o que fomos capazes de construir”, diz o empresário, que pretende agora dedicar-se à presidência do conselho de administração da sociedade Francisco Manuel dos Santos e da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

“É minha convicção absoluta que, nas atuais circunstâncias de experiência e de maturidade de Jerónimo Martins, o esforço permanente que o exercício do cargo de presidente do conselho de administração exige de mim deixou de justificar-se.” Por isso, “está na hora de dedicar-me aos demais projectos que me ocupam, nomeadamente a presidência do conselho de administração da sociedade Francisco Manuel dos Santos e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, com a confiança de quem sabe que deixa bem entregue a principal obra da sua vida”.

No comunicado enviado esta noite à CMVM, a Jerónimo Martins acrescenta que a “liderança e inspiração” de Alexandre Soares dos Santos e “a forma como sempre contagiou a organização com os valores — que lhe são tão caros — da disciplina, do trabalho e do respeito pela humanidade permanecerão como um exemplo para a gestão, que se compromete, hoje e sempre, a dar-lhes continuidade”.

O mais rico de Portugal
A liderança do grupo dono do Pingo Doce e sócio da Unilever em Portugal, cuja principal fonte de receitas está hoje na Polónia e que se expandiu recentemente para a Colômbia, numa lógica de diversificação de mercado após o fracasso em mercados como o Brasil, está hoje entregue a um dos seus sete filhos, Pedro Soares dos Santos.

Elísio Soares dos Santos, que nasceu em Setembro de 1934 (filho de Elísio Alexandre dos Santos), ocupou o cargo de administrador-delegado da empresa Soares dos Santos em 1968, transformando-a num grupo com presença internacional.

Considerado o homem mais rico de Portugal pela revista Exame, Alexandre Soares dos Santos tinha passado a liderança executiva a Luís Palha da Silva em 2004, mas foi o seu filho, Pedro Soares dos Santos, quem passou a liderar o grupo a partir de 2009, assumindo a posição de administrador-delegado do grupo.

Já em Março, por ocasião da abertura das primeiras lojas Ara, da Jerónimo Martins, na Colômbia, Soares dos Santos tinha manifestado publicamente vontade de sair, tendo afirmado que estava “debaixo de pressão para ficar” e que só se mantinha na liderança do grupo em resposta ao desafio colocado pelo accionista. “Para estar à frente” do grupo “é preciso muita genica”, disse na altura.

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