Adoptar programa cautelar não fará muita diferença, diz a Moody's

Analista da agência de rating avisa que Portugal vai precisar de mais consolidação orçamental por muitos anos.

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Agência entende que há diferenças entre Portugal e a Irlanda Reuters

A opção de Portugal por um programa cautelar ou pela criação de uma almofada financeira pelo Tesouro não fará muita diferença na decisão sobre o rating português que deverá ser tomada pela Moody's no início do próximo mês de Maio.

Numa conferência de imprensa realizada esta quarta-feira em Lisboa, a analista da agência de notação financeira encarregue de analisar Portugal minimizou a importância que pode ter para o país ter um programa cautelar activado a seguir ao final do actual programa.

"A ideia por trás de uma linha de crédito cautelar é precisamente a de que o ideal é mesmo não ser usada", disse, lembrando que no caso da Irlanda a opção foi a de criar uma almofada financeira própria que garantisse ao país que tinha o financiamento necessário para um período longo de tempo. "Não se consegue dizer que uma coisa é melhor do que a outra", afirmou Kathrin Muehlbronner, embora reconhecendo que uma decisão sobre o rating português não será tomada sem saber qual será a decisão de Portugal nesta matéria.

Esta posição da Moody's é diferente da assumida recentemente por outra agência de rating, a Fitch, que defendeu que Portugal deveria adoptar um programa cautelar.

A Moody's passou, em Novembro, a tendência do rating português de "negativo" para estável. Mantém a nota, contudo, em nível "lixo". Uma passagem para nível de investimento no futuro é ainda encarada com muita prudência pela analista da Moody's. "Reconhecemos que já se iniciou uma recuperação e que Portugal fez reformas importantes", disse Kathrin Muehlbronner, afirmando ainda que o risco de reestruturação da dívida é agora muito mais reduzido.

No entanto, mostrou ainda uma grande preocupação: "Os rácios da dívida são muito altos [,o que exige] mais crescimento económico e défices reduzidos." "Ainda há muito a fazer e a consolidação orçamental vai ter de continuar por muitos anos", afirmou a analista.

Em comparação com a Irlanda, cujo rating a Moody's já colocou em nível de investimento, Kathrin Muehlbronner salientou duas diferenças. Primeiro, o facto de a Irlanda estar a conseguir taxas de juro de 3,5% com um crescimento de 2%, ao passo que Portugal tem taxas de 5% com um crescimento abaixo de 1%. "Isso torna a análise da sustentabilidade da dívida completamente diferente para os dois países."

Depois há diferentes perspectivas quanto ao crescimento futuro da economia para a Irlanda e para Portugal. "A Irlanda é um país em que temos mais confiança de que o modelo de crescimento baseado nas exportações pode funcionar", explicou.

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