A duas semanas da hora da decisão, BCE debate política monetária em Sintra

O que deve o BCE fazer para evitar o risco de deflação na Europa? Mario Draghi decide a 5 de Junho, mas antes, em Sintra, este será um dos temas em debate no fórum do banco central.

Foto
Mario Draghi estará em Portugal a partir de Domingo

É a poucas semanas de Mario Draghi e os seus pares anunciarem aquilo que pretendem fazer para combater a ameaça de um período demasiado longo de inflação baixa na zona euro que o Banco Central Europeu (BCE) se prepara para “mudar-se” durante três dias para Portugal e discutir com alguns dos mais conhecidos especialistas na matéria o ponto de situação da política monetária no mundo.

Este domingo inicia-se, com o final marcado para terça-feira, a primeira edição do Fórum sobre bancos centrais organizado pelo BCE na Penha Longa, perto de Sintra. Vários dos responsáveis máximos do banco, representantes de outros bancos centrais como a reserva Federal norte-americana e economistas provenientes de universidades de todo o mundo vão discutir os desafios que se colocam actualmente às autoridades monetárias.

O grande tema da conversa será inevitavelmente a forma como os bancos centrais, em especial o BCE, está neste momento a responder ao desafio que constitui tentar combater o risco de deflação quando as taxas de juro já estão praticamente a zero. O assunto não podia ser mais actual. Será a 5 de Junho que o BCE irá decidir que medidas tomar para impedir que a zona euro fique, durante demasiado tempo, com uma inflação baixa, que acabe por afectar as expectativas de variação de preços no médio prazo e lançando a economia para mais perto da armadilha da deflação. Para outros bancos centrais, como a Fed, o Banco de Inglaterra ou o Banco do Japão este também é o assunto do momento.

No programa do fórum, o tema está reservado para o último dia do evento. Será na terça-feira de manhã que nomes como Paul Krugman ou Otmar Issing vão debater com o economista-chefe do BCE as metas de inflação dos bancos centrais e a forma como a dimensão dos balanços dos bancos centrais pode ser usada na definição da política monetária. Krugman tem sido um crítico do BCE, defendendo que este devia ser mais activo no combate à deflação. Otmar Issing, antigo economista-chefe do BCE, está no polo oposto, defendendo que Mario Draghi está a ir longe demais. O presidente do BCE, finalizará o Fórum na tarde de terça-feira com a participação no último debate.

Na segunda-feira, a supervisão e a forma como se deve relacionar com a política monetária é o tema central, central, com a participação de Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE. O dia conclui-se com uma conversa entre dois altos responsáveis políticos europeus: o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijssebloem.

"Debates que o BCE quer encorajar"
Em declarações ao PÚBLICO, Christine Graeff, a directora-geral de comunicações do BCE, explica qual é a intenção do banco central em dar início a esta série de fórum. “O objectivo é criar uma plataforma em que haja uma troca livre de opiniões e um diálogo informal realizado num ambiente relaxante”, afirma, assinalando que “há mesmo muito para discutir”. “Com a crise, todos vimos o papel que a política monetária tem desempenhado na manutenção da estabilidade de preços. E no ambiente actual de taxas de juro baixas também testemunhámos a necessidade de políticas não convencionais e temos sido confrontados com a interacção das políticas adoptadas a um nível global”, explica. Esta responsável do BCE afirma “estes são debates que o BCE quer encorajar” e assinala que, no fórum, “algumas questões serão de interesse imediato e corrente, outras serão mais académicas”.

Os convidados para o fórum, diz Christine Graeff, foram escolhidos com a intenção de “serem as melhores pessoas conhecidas por realizarem investigação nos temas que se pretende debater”. “São investigadores de elevado calibre e darão um grande ímpeto a uma discussão diversa e frutífera”, confia.

Em relação à escolha de Sintra como cenário para o debate, a responsável do BCE explica que, nas fases iniciais de preparação, depois de terem decidido não realizar o evento em Frankfurt, receberam “boas propostas” de diversos bancos centrais nacionais. Os critérios usados foram “a dimensão do local do evento, a existência de acomodação adequada perto, ser ligeiramente fora de um centro urbano, mas ainda assim com bons acessos a um aeroporto internacional”. “Além disto tudo, estávamos à procura de um local que estimulasse uma atmosfera tranquila e que acrescentasse um pouco de inspiração às discussões. Sintra cumpria todos estes requisitos”, afirma, garantindo que este fórum será apenas o primeiro de uma série, será realizado todos os anos no final de Maio e “pelo menos durante alguns anos em Sintra”.

O facto de o dia de abertura do evento coincidir com a data das eleições para o Parlamento Europeu motivou críticas em Portugal, por pôr elementos da troika a falar em Portugal no dia em que se tomam decisões sobre o futuro da Europa. O Bloco de Esquerda apresentou mesmo uma queixa junto da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que esta não levou adiante por considerar que o evento não tinha qualquer relação com as eleições. Esta é a mesma posição assumida pelo BCE. “Acho que, no máximo, aquilo a que se assistiu foi a um pouco de incompreensão em relação aos objectivos e propósitos do evento. É difícil encontrar qualquer fonte de controvérsia, tal como foi sublinhado pela CNE. Este é um forum que pretende centrar-se em questões de longo prazo relacionados com as políticas dos bancos centrais”, afirma Christine Graeff.

Este domingo, o que está previsto na agenda é a chegada dos participantes às 18h30 com um discurso de boas vindas de Mario Draghi. Segue-se um jantar que contará com a intervenção da directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, sobre os desafios da política monetária global.
 

   

Sugerir correcção
Comentar