Pelo terceiro ano consecutivo, um Citemor de combate (a pensar no futuro)

A 36.ª edição do festival começa esta quinta-feira e passa por Coimbra, Lisboa e Porto antes de chegar a Montemor-o-Velho.

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Paulo Castro abre hoje o festival com Decomposition TOBIN LUSH

Há uma semana, quando ainda não tinha notícias sobre os resultados da candidatura aos apoios pontuais da DGArtes que deviam ter sido anunciados no início de Julho, não era possível garantir que a 36.ª edição do Citemor – Festival de Montemor-o-Velho viesse a ser mais do que um fim-de-semana de estreias nacionais em Coimbra. Sete dias e 25 mil euros de apoio in extremis depois, o Citemor vai mesmo fazer-se: será a terceira edição de combate consecutiva e há uma altura em que começam a faltar as forças, admite o director artístico do festival Armando Valente, mas este festival que esta quinta-feira começa em Coimbra e que termina no próximo dia 9 em Montemor-o-Velho depois de escalas em Lisboa e Porto "não está apenas a lutar pela sua sobrevivência, está também a afirmar a sua vitalidade".

Longe dos orçamentos (e, portanto, das programações) dos seus melhores anos, o Citemor passou de festival de referência e território privilegiado de criação nas áreas do teatro, da dança e da performance à escala da Península Ibérica (ali assistimos, e em tempo real, a um fenómeno chamado Rodrigo García) a uma espécie de sneak preview do que poderia fazer-se com um financiamento à altura. "O chumbo da candidatura aos apoios tripartidos lançados há dois anos impediu-nos de poder reconquistar alguma escala internacional. No ano passado, não tivemos qualquer tipo de apoio da DGArtes. E os 25 mil euros que recebemos este ano, se recordarmos que tivemos orçamentos bastante acima dos 200 mil euros e que o Citemor continua a contribuir anualmente para a renovação do repertório coproduzindo uma média de seis novas obras, são apenas pocket money. O festival continua a fazer-se porque tem a cumplicidade da comunidade artística, que continua a achá-lo indispensável: temos artistas a receberem cachets simbólicos, tal como no ano passado, e equipas técnicas e de produção a trabalharem pro bono", explica Armando Valente.

Mesmo com a sua capacidade de produção radicalmente diminuída, o Citemor que esta quinta-feira começa inclui duas estreias nacionais – Decomposition, peça inspirada no mito sebastiânico que o português Paulo Castro traz da Austrália, onde se radicou há anos (esta quinta-feira e sexta-feira no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra; sábado e domingo na ZDB, em Lisboa), e Infinito - Besos =, em que a bailarina espanhola Tania Arias se faz dirigir por quatro criadores (sábado e domingo no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra; dias 31 de Julho e 1 de Agosto no espaço da Mala Voadora, Porto) – e duas antestreias absolutas – Golden, conflito de gerações entre as bailarinas Carlota Lagido e Mariana Tengner Barros (dia 7 na Sala B, em Montemor-o-Velho), e Fragmentos de um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas, pré-apresentação do projecto de sete palestras performativas que Joana Craveiro estreará no Outono em Lisboa (dias 8 e 9 no Teatro Esther de Carvalho, também em Montemor-o-Velho). Será de resto no último fim-de-semana, e em casa, que o festival mais se aproximará do seu ADN: "Reservámos para esse dias as criações desenvolvidas em contexto de residência artística e os espectáculos que ainda não estão concluídos ou em difusão. Cremos que com isso estamos a proteger, na medida dos recursos disponíveis, a identidade do festival." 

Tal como nas edições anteriores, o espectador terá a liberdade (e a responsabilidade) de decidir quanto quer pagar para ver os espectáculos. É o presente "delicadíssimo" que temos, mas Armando Valente já está a pensar no futuro: "Acho que podemos estar muito próximos de um ponto de viragem. Tenho essa expectativa em relação ao Citemor como em relação ao país."

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