Imperador do Japão quer preservar biombos namban que existem em Portugal

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Biombos em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa Pedro Cunha/arquivo

Os biombos materializam os mais de 470 anos de contactos luso-nipónicos, mas escondem também documentos raros da história do Japão, justificando que o imperador Akihito tenha conversado com Passos Coelho sobre os projectos de recuperação dos namban existentes em Portugal.

O imperador do Japão recebeu na sexta-feira o primeiro-ministro português e um dos temas abordados nos cerca de 40 minutos pelos quais se prolongou a audiência prevista para 20, foram a continuação da recuperação dos biombos namban dos museus portugueses.

“Portugal tem estado a colaborar com esse trabalho e iremos intensificar essa colaboração, tanto mais que houve novos desenvolvimentos nesse domínio, mais biombos foram encontrados com forte possibilidade de conter o mesmo sistema de utilizarem documentos antigos para a base de construção do próprio biombo”, contou aos jornalistas Passos Coelho, que terminou uma visita de três dias ao Japão neste sábado.

Trata-se de biombos que representam cenas dos portugueses no Japão, alguns têm também imagens de Goa, representando normalmente caravelas, homens vestidos com casacos gibão e calças ‘bombacha’ (largas e armadas, estilo balão), missionários jesuítas ou dominicanos.

“São como fotografias daquele tempo”, contou o embaixador de Portugal no Japão, Francisco Xavier Esteves, sobre os objectos dos séculos XVI e XVII, realizados por uma escola de pintura japonesa.

Além de fixarem esses instantâneos da época, estes biombos escondem outros tesouros, um pouco como “bonecas russas”, ilustrou o diplomata. “Abrem-se e têm mais histórias lá dentro”, disse.

E abrem-se literalmente, porque os biombos eram preenchidos com uma espécie de forro de papel para o qual os artistas da época, devido à raridade do papel, recorriam a material reciclado, ou seja, que já tinha sido usado em documentos oficiais, por exemplo.

Um dos biombos – calcula-se que existam entre 40 a 60 destes biombos em Portugal – estava no Museu Soares dos Reis, no Porto, veio para o Japão para ser aberto, analisado, os documentos extraídos e feitas cópias fac-simile para exposições.

Dentro desse biombo estavam cerca de 1200 documentos japoneses e uma carta para Portugal de Luís Froes, “uma personagem maior dos missionários jesuítas no Japão, que escreveu sobre a História do Japão e foi um dos primeiros autores de uma gramática japonesa”, contou o embaixador.

Os documentos são tão importantes quanto raros, já que o Japão possui pouca documentação preservada, devido à sua intensa actividade sísmica, um passado de construção de habitações em madeira e guerras particularmente devastadoras, como a II Guerra Mundial.

Os projectos das autoridades japonesas de recuperação destes documentos contidos nos biombos nambam receberam na sexta-feira o apoio da autoridade máxima do Japão e o primeiro-ministro português comprometeu-se a colaborar com os objectivos de preservação da memória histórica japonesa.

“Terei ocasião no meu regresso a Lisboa de poder dar um impulso ainda maior à identificação e recuperação desses documentos, em contacto com as autoridades japonesas. Trata-se de dar a maior facilidade possível a que todos os especialistas indicados pelo Governo japonês possam proceder com os cuidados à recuperação dos documentos”, declarou Passos Coelho.

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