O Poetry Slam já não é só de Lisboa e esta noite é o país que entra na guerra de palavras

Quatro anos depois de ter chegado a Portugal, a primeira competição nacional de Poetry Slam acontece esta noite no Musicbox, em Lisboa.

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No final da noite, quem quiser pode subir ao palco, tomar o microfone e declamar as suas próprias criações Ricardo Jorge Carvalho

Para os que por acaso nunca ouviram falar do Poetry Slam a explicação é simples e rápida, aliás à semelhança desta forma de dizer poesia em público, disfarçada de competição. A primeira regra do jogo é que cada participante tem apenas três minutos para subir ao palco e declamar um poema da sua autoria. Mas não basta declamar, o Poetry Slam é mais do que isso. É preciso dar o corpo ao manifesto, literalmente. Sem quaisquer adereços, o participante, ou slammer (como aqui se chamam), tem de fazer uma perfomance.

E explica-nos quem percebe do assunto que um bom poema não faz um bom slammer, nem uma grande performance desgarrada de palavras é sinónimo de vitória. Mas a fórmula correcta essa depende de cada um porque cada participante terá o seu estilo próprio. O que é preciso é arriscar e conquistar o público presente e, já agora, também o júri. Sim, porque há um júri que ao fim de três rondas (eliminatória, semi-final e final) anunciará o vencedor. E esta noite a responsabilidade da escolha vai ficar a cargo de Nuno Miguel Guedes (jornalista e letrista), o músico JP Simões e Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago. A estes três elementos juntam-se ainda duas pessoas escolhidos aleatoriamente entre o público presente.

Em competição, e é aqui que está a novidade, vão estar os melhores do país, de Braga a Angra do Heroísmo. No total estarão dez slammers em competição, vindos de Lisboa, Braga, Amadora, Porto, Angra do Heroísmo, Sintra, Almada, Sines e Coimbra. Apenas os três mais votados passam à final, de onde sairá então o vencedor da primeira competição nacional.

Para Nuno Miguel Guedes, que esta noite preside ao júri e é já uma cara bem conhecida neste meio, a competição de hoje “significa que já há um circuito nacional de Poetry Slam”. “Agora já podemos dizer que o Poetry Slam existe a nível nacional e de várias formas, as pessoas estão-se a juntar de Norte a Sul do país e a organizar as suas próprias competições”, diz ao PÚBLICO o jornalista, congratulando-se com o facto de “finalmente se ter juntado tudo isto numa noite”.

Nuno Miguel Guedes lembra-se que no início quando o Poetry Slam chegou a Portugal as reacções do público que não conheciam esta forma de expressão eram ainda de muita surpresa, “muitas vezes nem entendiam o que se estava a fazer”. “Mas agora cada vez há menos reacções surpresas. As edições foram-se fazendo e as pessoas estão mais familiarizadas, os próprios slammers também são cada vez mais e mais confiantes no seu trabalho.”

Da mesma opinião é Alexandre Cortez, um dos sócios do Musicbox e um dos maiores dinamizadores do Poetry Slam em Portugal. Foi Alexandre Cortez, como organizador do Festival Silêncio, que trouxe esta competição para a noite lisboeta e é ele um dos nomes por trás da competição desta noite. “O que vai acontecer logo é o corolário deste período de quatro anos. Nota-se uma evolução cultural e são cada vez aparecem mais organizações um pouco por todo o país”, conta o responsável, explicando que logo em 2009 foi visível “o grande entusiasmo em torno desta nova forma de dizer poesia”.

“Notámos que havia muito interesse e decidimos apostar”, continua Cortez, que acredita que há muitas pessoas que têm “vontade de tirar os poemas que têm guardados na gaveta”. O que acontecia até agora, explica-nos, é que para mostrarem esses trabalhos não existiam eventos informais onde estas pessoas se pudessem sentir à vontade. “E estas noites vieram abrir um espaço para estas pessoas que aqui encontram uma forma de se exprimir.”

É também por isso que em todas as sessões há ainda espaço para aqueles que de repente ganharam coragem e querem subir ao palco para dar voz e corpo aos seus poemas. E esta noite não vai ser excepção. No fim da competição haverá ainda tempo para o Open Mic, que convida todos os presentes a partilharem o seu texto.

E porque a palavra é a ordem da noite, o palco do Musicbox receberá ainda as actuações do projecto de spoken-word Janela, que junta a voz e os textos do poeta José Anjos às composições em piano de Mário Fonseca e à video-arte de João Pinto, e do colectivo de deejaying Máfia do Caril.

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