Uma exposição que é um glossário ilustrado sobre feminismo e questões de género

Três artistas portuguesas juntaram-se para descomplicar alguns conceitos e criaram o Glossário Feminista Ilustrado, em exposição na Casa da Esquina, em Coimbra, até 23 de Março.

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É possível desenhar o género, o sexo, a misoginia, a interseccionalidade, o orgulho e o androcentrismo? Por outras palavras, é possível ilustrar um glossário com conceitos que “ainda não fazem parte do léxico de toda a gente”? Filipa Namorado, Beatriz Costa e Margarida Amargo (27, 25 e 24 anos, respectivamente) acreditam que sim. Juntas criaram o Glossário Feminista Ilustrado, um projecto que pode ser visto na Marquise da Casa da Esquina, em Coimbra, até 23 de Março.

Quando ouvimos falar em feminismo, drag ou male gaze, temos, por vezes, “dificuldade em acompanhar estas conversas, ou porque não conhecemos as palavras ou porque parece tudo demasiado complicado”, referem as jovens ilustradoras. Para fazer face a este desconhecimento – de que grande parte da sociedade é vítima –, criaram, a convite da Casa da Esquina, “uma exposição a três vozes” que aborda estes temas de uma forma acessível e descontraída.

O objectivo do projecto, sublinham, não é “detalhar todas as possíveis nuances de feminismo e questões de género” – até porque não são especializadas na área, mas sim jovens que se interessam por ela. A quem visita a exposição querem apenas oferecer um ponto de partida para que possam “questionar aquilo que tomavam como garantido e pesquisar mais sobre estes assuntos”.

“Mesmo em círculos de activistas, há conceitos recentes com os quais as gerações anteriores não estão, ainda, familiarizadas” – e é também por isto que é importante, aos olhos destas jovens, explorar, através da ilustração, algumas definições. Assumindo que é impossível apresentar uma resposta definitiva, uma vez que existe muita bibliografia para além daquela que abordaram, o Glossário Feminista Ilustrado tem apenas como propósito a desmitificação e descomplicação de alguns temas.

As jovens naturais de Coimbra optaram por usar, na exposição, o sistema de linguagem neutro, com base na letra “e”. A língua portuguesa reconhece apenas dois géneros gramaticais – o feminino e o masculino – e “isto não nos permite falar sobre alguém de forma neutra, sem lhe atribuir uma identidade de género”, explicam.

Recorrendo a uma linguagem inclusiva, que dá resposta a quem é trans ou se identifica com o género não-binário, no Glossário Feminista Ilustrado a palavra “todos”, por exemplo, passa a “todes”. Este é, para as ilustradoras, um simples exemplo de como se pode colmatar esta lacuna linguística, que “é tendenciosa e não reflecte a diversidade de género do ser humano”.

As três ilustradoras, formadas em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, são, além de colegas de trabalho, amigas – “uma relação que se fortaleceu especialmente depois deste projecto”, confessam ao P3.

A exposição pode ser visitada na Casa da Esquina até 23 de Março, de terça a sexta, das 10h30 às 12h30 e das 14h30 às 18h30.

Texto editado por Ana Maria Henriques

Euforia de género
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Cabelo
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Linguagem inclusiva
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Androcentrismo
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<i>Male gaze</i>
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Interseccionalidade
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Misoginia internalizada
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