Vinhos portugueses de regresso ao Brasil à procura do segundo lugar

Para ultrapassar a Argentina e consolidar a posição que tem vindo a conquistar nos últimos anos, Portugal aposta na presença de mais enólogos e produtores no Vinhos de Portugal no Brasil, que arranca dia 31 no Rio e segue depois para São Paulo.

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Sibila Lind

Chegar ao segundo lugar entre os países que mais vinho vendem no Brasil e consolidar essa posição – são estes os objectivos declarados da ViniPortugal uma semana antes do regresso àquele país com o Vinhos de Portugal no Rio (dias 31 de Maio a 2 de Junho), com 78 produtores presentes, e o Vinhos de Portugal em São Paulo (dias 7 a 9 de Junho) com 75 produtores, e um total de 600 rótulos.

“Quer no Rio quer em São Paulo, a palavra mais adequada é consolidar”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, sublinhando o caminho que tem sido feito nos últimos anos. “É importante recordar que em 2012 Portugal era o quinto fornecedor do Brasil e neste momento disputa o segundo lugar com a Argentina.”

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Já no ano passado a aposta tinha sido na conquista do segundo lugar, mas este ano, acredita Jorge Monteiro, o país está um pouco mais próximo desse objectivo. “No ano passado estávamos quase lá, este ano estamos quase, quase, quase lá. E estes dois eventos vão ser muito importantes para atingir esse objectivo.”

Este é já o sexto ano que o evento acontece no Rio de Janeiro e o terceiro em São Paulo e vai haver novidades, anuncia Simone Duarte, da Out of Paper, curadora da iniciativa, que é uma realização dos jornais PÚBLICO, O Globo e Valor Económico, em parceria com a ViniPortugal.

Uma das apostas, reforçada nas edições deste ano, é ter cada vez mais produtores e enólogos presentes. Simone Duarte acredita que para os consumidores que durante os três dias passam pelos espaços Vinhos de Portugal no CasaShopping, no Rio, e pelo JK Iguatémi, em São Paulo, faz toda a diferença terem a possibilidade de conhecer e falar directamente com quem faz os vinhos, ouvindo as suas explicações e podendo fazer todas as perguntas. “Temos cerca de 20 produtores ou marcas que vão pela primeira vez”, assinala.

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Essa presença dos enólogos e produtores reflecte-se na programação, com destaque, este ano, para duas provas verticais (ambas já esgotadas) com os dois vinhos tranquilos mais icónicos do país: o Barca Velha, do Douro, e o alentejano Pêra-Manca. A vertical de Pêra-Manca acontece no Rio e conta com a presença do enólogo Pedro Baptista, enquanto a de Barca Velha está marcada para São Paulo e será apresentada por Luís Sottomayor, o enólogo da Sogrape responsável por este vinho.

A organizadora destaca também a presença de outros enólogos/produtores que participam pela primeira vez no evento. É o caso de David Baverstock, do Esporão, Tomás Roquette, da Quinta do Crasto, ou Pedro Araújo, da Quinta do Ameal, e Osvaldo Amado, da Global Wines. As provas especiais apresentadas por críticos de vinhos e pelo master of wine Dirceu Vianna Júnior vão também contar com a presença de quem faz os vinhos – é o caso, por exemplo, das “batalhas” para descobrir a região dos melhores tintos e a dos melhores brancos de Portugal, que Dirceu Vianna Júnior apresenta.

Vinhos com música

Na área de convívio, aberta a toda a gente, haverá, como habitualmente, as sessões Tomar um Copo, este ano todas baseadas na primeira pessoa – ou seja, também aqui são os enólogos e/ou produtores a falar directamente com o público, com as regiões do Douro, Dão e Alentejo apresentadas na Primeira Pessoa.

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Nesta área de convívio, outra novidade: um palco onde decorrerão as sessões Vinhos COM. “A ideia é falar de tudo o que transita na área do vinho, mesmo não sendo necessariamente vinho.” Aqui vai haver gastronomia, vinhos “com sotaque”, com as histórias de estrangeiros que se apaixonaram por Portugal e compraram quintas para fazer vinho, histórias de mulheres que são produtoras e exemplos de propriedades onde a preocupação com a sustentabilidade começa a assumir o primeiro plano, como acontece com o Esporão.

A música vai estar muito presente, com os dois concertos de encerramento, em cada uma das cidades, com a brasileira Adriana Calcanhotto, que, lembra Simone Duarte, “se tornou uma verdadeira embaixadora de Portugal no Brasil” e que, tendo sido já no passado directora do PÚBLICO por um dia, vai conversar com o actual director do diário português, Manuel Carvalho, que estará no evento também no papel de crítico de vinhos, ao lado dos portugueses Luís Lopes (no Rio) e de Rui Falcão (São Paulo) e do brasileiro Jorge Lucki, com várias provas cada um.  

Além de Adriana Calcanhotto, o palco Vinhos COM receberá dois músicos portugueses, Tiago Bettencourt, no Rio, e Márcia, em São Paulo, escolhas de Nuno Pacheco, crítico de música do PÚBLICO. “Tentámos sempre mostrar um lado de Portugal ainda pouco conhecido”, explica Simone Duarte, “e agora que o fado está na moda no Brasil achámos que valia a pena levar outro tipo de música que é feito em Portugal e não tão conhecido dos brasileiros.”

Um mercado em crescimento

É neste ambiente que decorrerá o Vinhos de Portugal no Brasil, evento que, diz Jorge Monteiro, da ViniPortugal, tem sido “determinante na captação dos consumidores, que têm aqui oportunidade de descobrir vinhos que se calhar não imaginam que existem, marcas que não conhecem, regiões que para eles ainda são uma incógnita”.

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Tudo isto ajudará, acredita o responsável, a consolidar o segundo lugar que se pretende conquistar. Reconhece, no entanto, que o primeiro, ocupado pelo Chile, ainda está distante. “O Chile tem uma vantagem muito grande, está muito distanciado dos restantes.” Já a Argentina, garante Jorge Monteiro, “anda a seguir Portugal e tem feito contactos para organizar eventos com este perfil também em São Paulo”.

Claro que há sempre um nível de “imprevisibilidade” grande, a nível político e económico, quando se trata do Brasil, mas “estamos numa dinâmica ganhadora”, afirma, referindo a tendência dos grandes supermercados para começarem a fazer compras directas em Portugal, cortando os intermediários, o que permite que os vinhos portugueses cheguem aos consumidores a um preço um pouco mais baixo, apesar das taxas altas que continuam a ser vistas como um dos principais obstáculos a uma maior penetração neste mercado.

Também Pedro Araújo, da Quinta do Ameal, que este ano vai estar presente pessoalmente pela primeira vez, acredita que este é um mercado em que é muito importante continuar a apostar. Bisneto de Adriano Ramos Pinto, que há um século fez um trabalho notável de marketing dos seus vinhos no Brasil (onde o vinho do Porto era identificado por muitos simplesmente como “Adriano”), Pedro Araújo tem hoje neste país o principal mercado para os seus vinhos. “O Brasil tem grande potencial de crescimento”, diz, defendendo a necessidade de “aproveitar a oportunidade única de aumento do turismo” para dar uma maior projecção aos vinhos e a outros produtos portugueses.

É, contudo, muito crítico do que Portugal continua a não fazer nesta área no mundo. O problema, frisa, é que “não há estratégia”, “as pessoas que estão à frente dos organismos não são profissionais do ramo” e “quando muda o responsável, muda a estratégia”. Um exemplo: Nova Iorque, onde esteve recentemente e onde não viu vinhos portugueses à venda, sendo que os Estados Unidos são “um mercado potencial enorme”.

Um dos enólogos que vai estar também pela primeira vez no evento do Brasil é o já referido Pedro Baptista, do Pêra-Manca. A prova vertical que vai apresentar será muito interessante, diz, por permitir comparar vinhos de anos diferentes, mas sempre provenientes das mesmas parcelas, sobretudo quando se trata de um vinho “tão particular e tão único como o Pêra-Manca”, “uma marca muito acarinhada no Brasil e que suscita grande curiosidade entre os consumidores brasileiros de cada vez que é lançada uma nova colheita”.

O mesmo acontece, naturalmente, com o histórico Barca Velha, da Sogrape. Fernando Cunha Guedes, presidente da empresa, destaca a “afinidade histórica com o Brasil” e “o potencial de futuro” nesta relação. Apesar de ter “um consumo per capita ainda muito reduzido” e “muito concentrado na zona de São Paulo”, e uma “carga fiscal muito forte”, o Brasil foi nos anos 1950 “o primeiro grande mercado internacional da Sogrape”, sobretudo com o Mateus Rosé.

Após um período em que a empresa se distanciou do mercado brasileiro, há cerca de oito anos houve uma inversão da situação e hoje o Brasil é uma aposta clara e um mercado em crescimento, afirma Fernando Cunha Guedes. Estar presente no evento com o diversificado portefólio da empresa e, sobretudo, com a vertical de Barca Velha, é, obviamente, uma forma de reforçar essa aposta. 

O Vinhos de Portugal no Brasil tem o patrocínio do CasaShopping e o apoio do Instituto do Vinho do Douro e Porto (IVDP), Comissão Vitivinícola do Alentejo, Comissão Vitivinícola do Dão e TAP, e ainda o apoio institucional do SindRio e Experimenta SP.

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