Portugal emite dívida de curto prazo com juros negativos

Estado português obteve junto de investidores mais de 1700 milhões em bilhetes de seis meses e um ano.

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No mercado secundário, os juros de Portugal a dez anos estão nos 3,8% Reuters/ALI JAREKJI

O Tesouro português foi de novo nesta quarta-feira levantar fundos aos mercados, conseguindo junto de investidores taxas de juro negativas para se financiar em 1750 milhões de euros em dívida pública de curto prazo. A maior parte do valor foi obtido através de títulos que vencem dentro de um ano, outros têm uma maturidade de seis meses.

Com esta operação, realizada pelo IGCP, Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, o Estado obteve financiamento de 1400 milhões de euros através de Bilhetes do Tesouro a 12 meses a uma taxa de juro de -0,047%, o que compara com uma taxa -0,007% numa emissão idêntica realizada a 16 de Novembro. Pelos restantes 350 milhões de euros, emitidos em Bilhetes do Tesouro com um prazo de seis meses, a taxa de juro foi de -0,091%, quando na emissão anterior se fixara em -0,031%.

Quando se registam juros negativos, significa que os investidores decidem pagar para emprestar dinheiro, optando por suportar juros negativos.

Embora no mercado secundário, onde os investidores trocam entre si títulos de dívida já emitidos pelos Estados, se tenha assistido a uma escalada nos juros na dívida a dez anos no início do ano, houve alguma descompressão nas últimas sessões. Com a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) a ajudar os países da moeda única a financiarem-se a taxas mais baixas, Portugal conseguiu voltar a financiar-se a taxas negativas, o que tem acontecido apenas com títulos de curto prazo.

Há duas semanas, quando Portugal enfrentava no mercado secundário taxas de juro de 4%, o IGCP foi ao mercado realizar uma emissão de dívida a dez anos (o prazo de referência no mercado) e, aí, pelos 3000 milhões de euros obtidos, a taxa de juro foi de 4,227%. Entretanto, houve um recuo dos juros no mercado secundário, onde nesta quarta-feira as taxas estavam nos 3,8%.

O IGCP previa ir buscar ao mercado entre 1250 a 1500 milhões de euros, mas acabou por levantar mais 250 milhões do que o montante máximo inicialmente pensado. Pelos títulos com prazo de 12 meses, a procura superou 1,55 vezes a oferta, e no caso dos bilhetes com maturidade de seis meses a procura foi de mais de 3,5 a oferta do IGCP.

Para Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa, o facto de se terem registado taxas “negativas e mais baixas do que nos últimos leilões de Bilhetes do Tesouro para estas maturidades” resulta da “da descida de taxas desde a semana passada em toda a dívida soberana europeia. A taxa das dívidas soberanas a dez anos, por toda a Europa, teve um certo alívio e isso acabou por influenciar a emissão de hoje”.

Embora note, num comunicado enviado às redacções, que é “muito positivo” que o Estado tenha conseguido financiar-se em 1750 milhões de euros com juros negativos, sublinha que se trata de “dívida de curto prazo, o que lhe retira grande significado”. O mercado, diz, estará “atento é ao que se vai passar amanhã, na reunião do BCE, para saber se há alguma novidade em relação ao plano de compra de activos e se, em face das melhorias quanto à inflação, se haverá algum ‘guidance’ sobre as taxas de juro”, que o Banco Central Europeu mantém em mínimos históricos.

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