Aceleração à base das exportações garante última meta do Governo para o PIB

O consumo e o investimento parecem ainda não dar sinais de retoma, mas no terceiro trimestre as exportações chegaram para sustentar uma aceleração surpreendente da economia.

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Subida das receitas com turismo aumentou ainda mais o contributo das exportações líquidas Nuno Ferreira Santos

No espaço de menos de uma semana, as previsões de crescimento para a economia portuguesa apresentadas pela Comissão Europeia passaram a estar claramente desactualizadas. Para surpresa de Bruxelas e da generalidade dos analistas portugueses que arriscaram avançar com uma estimativa para a evolução do PIB português nos últimos meses, o Instituto nacional de Estatística revelou na terça-feira que o PIB cresceu 0,8% no terceiro trimestre deste ano. Um resultado que não só é o melhor dos últimos três anos e o mais alto entre todos os países da zona euro, como torna bastante improvável a concretização das expectativas mais pessimistas de Bruxelas para o crescimento no total do ano.

Foi no passado dia 9 de Novembro que a Comissão Europeia anunciou que esperava para Portugal um crescimento de apenas 0,9% no decorrer deste ano, um valor abaixo dos 1,2% que o Governo tinha estimado quando apresentou o OE, abandonando a previsão inicial de 1,8%. Para chegar a um número tão decepcionante, Bruxelas estimava que, depois de um segundo trimestre em que o crescimento foi de 0,3%, se assistiria a um ligeiro abrandamento no terceiro para 0,2%, seguido de 0,3% no quarto.

Os dados da estimativa rápida agora divulgados pelo INE mostram, contudo, um cenário completamente diferente. Afinal a economia cresceu 0,8% entre Julho e Setembro, colocando a variação homóloga do PIB em 1,6% e tornando um crescimento no total do ano como aquele que o Governo agora projecta perfeitamente alcançável na fase final de 2016.

De acordo com os cálculos do PÚBLICO, se não se vierem a registar correcções aos dados publicados, poderá bastar uma variação nula do PIB no quarto trimestre deste ano para que o crescimento no total de 2016 atinja os 1,2% projectados pelo Governo. Em contrapartida, para que a previsão de crescimento de 0,9% se concretizasse, seria agora necessário que se registasse uma de todo improvável queda abrupta da actividade económica nos últimos três meses do ano de quase 1%.

No polo oposto, num cenário optimista, se a economia voltasse a crescer 0,8% no quarto trimestre, ainda conseguiria uma variação de 1,4% em 2016, arrancando o ano com um crescimento homólogo trimestral de 2,1%.

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De onde veio este crescimento?

Seja qual for a perspectiva que se dê aos números divulgados pelo INE, a conclusão é sempre a de que se trata de resultados muito impressionantes.

É necessário recuar até ao último trimestre de 2013 para encontrar uma taxa de crescimento trimestral mais forte dos que os 0,8% agora conseguidos. O crescimento homólogo de 1,6%, que subiu dos 0,9% da primeira metade do ano, é também o mais elevado desde o segundo trimestre de 2015, quando a economia atingiu com 1,7% o valor mais alto desde o início da crise financeira internacional.

Além disso, o desempenho mais forte da economia portuguesa ocorre num período em que, no resto da zona euro, o cenário foi de estabilização. Portugal foi mesmo a economia da zona euro que mais cresceu durante o terceiro trimestre (os 0,8% comparam com 0,3% de média na zona euro). Em termos homólogos, Portugal regista agora uma taxa de variação idêntica à da zona euro.  

Como é que um resultado destes foi possível? Ao divulgar os dados (ainda sem informação sobre a variação registada nas diversas componentes do PIB), o INE deixa algumas pistas: a subida da variação do PIB em cadeia deve-se ao "forte aumento das exportações de bens e serviços, enquanto a procura interna registou um contributo negativo".

Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, e uma das analistas que foi surpreendida pelos números divulgados pelo INE, explica o que pode querer dizer esta informação do INE. “Na primeira metade do ano, as exportações foram muito afectadas pelas quebras na produção de combustíveis e pela queda da procura proveniente de Angola. Tudo o resto estava a correr bem. Tudo indica que o que aconteceu no terceiro trimestre foi que esses dois factores negativos desapareceram da equação”, afirma.

Para além disso, a aumentar ainda mais o contributo das exportações líquidas (exportações menos importações) terá estado o aumento das receitas com turismo (que contam como exportações de serviços) e um crescimento muito reduzido das importações. O facto de o consumo ter crescido mais nos bens não duradouros e menos nos bens duradouros (que são em geral importados, como os automóveis) contribuiu para esse resultado.

Para 2017, o ritmo agora atingido pela economia abre perspectivas mais positivas. Afinal de contas, neste momento tudo aponta para que o próximo ano seja iniciado com uma taxa de variação homóloga superior ao crescimento de 1,5% que é previsto pelo Governo. “Isto acaba por reforçar a credibilidade do orçamento”, diz Paula Carvalho.

Animado por esta mudança rápida de conjuntura, o Governo garantiu, através de um comunicado das Finanças, que “estes dados não surpreendem” e que se devem às “políticas orçamentais e económicas adoptadas” pelo executivo. E deixa logo a seguir um recado à Comissão, que nesta quarta-feira revela a sua avaliação do desempenho orçamental português em 2016 e 2017: “A incorporação destes dados nas previsões para a economia portuguesa implicará uma revisão em alta dos últimos números divulgados por várias instituições”.

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