BCE diz que anúncio de compra de dívida já está a ajudar a economia do euro

Compra de dívida pública pelo banco central começa a ser passada à prática na próxima segunda-feira. Mario Draghi reviu em alta previsões para o crescimento e inflação

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Mario Draghi revelou que compra de dívida pública começa dia 9 de Março AFP

Um mês e meio depois de anunciar um programa inédito de compra de dívida pública e, apesar de revelar que este apenas passará à prática na prática na próxima segunda-feira, Mario Draghi revelou esta quinta-feira estar bastante mais optimista em relação à evolução da economia da zona euro.

A falar no final da reunião do conselho de governadores do Banco Central Europeu que decorreu desta vez em Nicósia, em Chipre, o presidente da autoridade monetária europeia defendeu que o simples anúncio de que o BCE iria começar a comprar 60 mil milhões de euros de activos por mês pelo menos até Setembro de 2016 estava já a provocar uma melhoria de vários indicadores nos mercados e no sistema financeiro europeu. Desta maneira, acredita Draghi, o objectivo do BCE de reanimar a economia e recolocar a inflação mais próxima de um valor que fique abaixo mas próximo de 2%.

Este optimismo do presidente do BCE reflecte-se desde logo nas novas projecções apresentadas pelos técnicos do banco central. Agora, aponta-se para um crescimento da economia de 1,5% este ano na zona euro e de 1,9% em 2016, quando as anteriores previsões eram de 1% e 1,5%, respectivamente. O BCE apresentou também pela primeira vez uma previsão de crescimento para 2017, de 2,1%.

Para a inflação, o BCE cortou de 0,7% para 0% durante este ano, o que mostra o efeito da descida dos preços do petróleo e também o risco de pressões deflacionistas que o banco central observa actualmente na zona euro e que o levou a actuar.

No entanto, em mais um sinal de optimismo em relação ao impacto das suas medidas, o BCE reviu a previsão de inflação em 2016 de 1,3% para 1,5%, apontando para um valor de 1,8% em 2017, ou seja, em linha com os seus objectivos.

“As nossas decisões de política monetária funcionaram. Os objectivos estão gradualmente a ser atingidos”, afirmou Mario Draghi na conferência de imprensa. O presidente do BCE destacou a reacção dos mercados, que “foi muito positiva”, mas garantiu que os efeitos não ficaram por aí e que dos mercados houve um contágio positivo para a economia.

“Temos visto uma queda significativa das taxas de juro dos empréstimos”, disse Draghi. O líder do BCE garantiu ainda que se notou nos países periféricos uma particular melhoria das condições de crédito, com uma convergência das taxas de juro entre o centro e a periferia. “O crédito está a chegar melhor à economia, às empresas e às famílias”, disse.

Mario Draghi não se esqueceu contudo de voltar a deixar recados aos governos. “Para conseguir retirar todos os benefícios [do programa de compra de activos] é necessário o contributo de outras áreas da política económica”, disse, apelando, em particular, a que os países ponham em prática “reformas estruturais no mercado de trabalho e de produto”. Em relação às políticas orçamentais, repetiu que “devem ajudar a retoma, ao mesmo tempo que cumprem as regras do Pacto de Estabilidade”.

Questionado sobre se a Alemanha tinha espaço de manobra para aplicar uma política orçamental mais expansionista, Mario Draghi preferiu “não dar conselhos para a política orçamental de um país em particular”. Isto apesar de, no decorrer da conferência de imprensa, ter por diversas vezes deixado recomendações desse tipo à Grécia.

Mais empréstimos para a Grécia
Às várias questões colocadas sobre a Grécia pelos jornalistas presentes, o presidente do BCE fez questão de responder com o número relativo ao financiamento disponibilizado ao Estado e bancos gregos. Mario Draghi relevou que os empréstimos totais do banco central “passou no último mês e meio de 50 para 100 mil milhões de euros”.

“Isto mostra que o BCE é realmente o banco central da Grécia. Mas também é o banco central de outros países”, disse, salientando por diversas vezes que “o BCE é uma instituição baseada em regras, não uma instituição política”.

Foi assim que justificou que, apesar do recente acordo com a Grécia no Eurogrupo, o banco central continue a não aceitar dívida pública grega como garantia. E voltou a mostrar que o BCE está decidido a não autorizar o Estado grego a ultrapassar o limite estabelecido pela troika para a emissão de bilhetes do tesouro, uma vez que esses títulos seriam comprados pelos bancos que, depois, obteriam financiamento junto do BCE. “Estamos proibidos de financiar os Estados membros, mesmo indirectamente”, disse.

Neste momento, o BCE continua a apoiar os bancos gregos através da Assistência de Liquidez de Emergência - ELA, que no decorrer desta reunião, revelou o banco central, foi aumentada em 500 milhões de euros. “Os bancos gregos neste momento são solventes, foram bem capitalizados. É absolutamente essencial que esta solvência se mantenha. É a pré-condição para que o ELA se mantenha em vigor”, afirmou Mario Draghi.

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