Palavrões, palavras

Rir e gozar são os melhores verbos de sempre.

As gargalhadas dos netos – e de todas as crianças que escolhem brincar connosco – são não só iguais como melhores do que as primeiras vezes que nos rimos.

O António que tem 7 anos de idade mas 700 anos de malandrice e de política externa já é suficientemente sabido para anunciar, depois de eu ter desabafado depois de bater numa árvore com o carro durante uma manobra de marcha atrás: "Mãe, o avô disse um palavrão".

Ainda tentei falar na árvore que é o carvalho, como se o que eu tivesse dito não fosse mais do que uma identificação silvestre. O António riu-se e percebeu logo a minha falta de originalidade: "isso é o que todos dizem quando dizem esse palavrão".

Ele tinha passado a tarde a jogar – muito bem – o jogo da forca com a Maria João. As palavras escolhidas, ora por ela, ora por ele, eram obrigatoriamente nojentas: cocó, vómito, pum, diarreia, piolhos. A certa altura o António pediu licença para escolher um verdadeiro palavrão. Fê-lo com uma elegância, prontíssima para ser rejeitada, que muito nos impressionou.

"Claro", dissemos todos. E nesse preciso e precioso momento, o António desatou a rir como se o riso banisse toda a tristeza do mundo. A verdade é que ele sabia mais do que nós. Era ele o professor. Os palavrões só fazem sentido quando trazem prazer. Rir e gozar são os melhores verbos de sempre.

O libertador era o António. Os palavrões deixam de ter tanta, imensa graça quando se chega à monomania da puberdade. Só fica alguma.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários