O território comanda a vida

“A geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.” Esta frase do geógrafo Yves Lacoste tornou-se título de livro em 1976. Polémico pela verdade que encerra, foi considerado subversivo pelos académicos franceses, que, para não pronunciarem a frase, se referiam à obra como “o livro da capa azul”.

Concordando-se ou não com a linha ideológica deste académico nascido em Marrocos, o certo é que o seu trabalho derrubou o paradigma da geografia regional francesa e transformou-o num dos principais teóricos da geografia moderna.

E o que diz o dicionário enciclopédico sobre “geografia”? “Ciência que estuda, descreve e explica a superfície terrestre, a distribuição espacial e as relações recíprocas dos fenómenos físicos, biológicos e sociais que nela ocorrem.” Parece pacífico.

Um dicionário comum fala em “descrição quanto às raças, línguas, instituições (geografia política), quanto à história (geografia histórica) e quanto à Terra, nas suas relações com os outros corpos do sistema planetário (geografia matemática)”.

Pela enciclopédia, também se fica a saber que a “geografia” nasceu na Grécia (sempre a Grécia...), “quando os gregos estabeleceram a geometria matemática, afirmaram a redondeza da Terra e mediram o arco de meridiano (Eratóstenes)”. Estava-se no séc. III a. C.

Deste então, a Terra manteve a sua “redondeza”, mas pouco mais. As fronteiras andaram para lá e para cá, com o território a comandar a vida dos países e dos povos. Quase sempre com muito sofrimento.

E numa altura em que parecia que a globalização ia esbater as fronteiras, mais muros se ergueram. Nem todos visíveis.    

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