Novo ano

1. 2015 aí está, com os votos de sempre: saúde, alegria e bem-estar. E com um pouco mais de cultura, se possível.

O Diário de Notícias (DN) informou que os portugueses fizeram muita pesquisa na Internet, no ano que agora acaba. Não surpreende: passou o tempo das velhas enciclopédias, adquiridas tantas vezes com esforço por pais e avós; os professores já não são os mestres universais dos outros tempos, a quem podíamos recorrer em caso de dúvidas; e os pais, centrados no trabalho ou no desemprego, têm cada vez menos tempo para esclarecer os filhos. A Internet está sempre junto a nós. No emprego, quando pretendemos um esclarecimento rápido sobre uma questão profissional. No lazer, quando precisamos de informações sobre um espectáculo ou um restaurante acessível. Em casa, quando ficamos com dúvidas sobre algum tema de conversa, ou nos questionamos sobre alguma notícia menos credível que a televisão nos traz.

E que pesquisam os portugueses na Internet? Segundo o DN, emocionam-se com a vida e a morte de figuras públicas, por isso procuram muito um desaparecimento trágico ou a doença de alguém conhecido: foi assim que a morte repentina do actor Rodrigo Menezes foi dos temas mais pesquisados.

Também não se cansam de procurar sítios que os ensinem a enriquecer sem trabalhar, querem aprender receitas rápidas e gostosas, e nunca se esquecem de saber mais sobre futebol (as notícias do Mundial de Futebol de 2014 foram muito procuradas).

Aquele programa denominado “Casa dos Segredos” suscitou o maior interesse no Google. A notícia do DN não elucida quais os pormenores a que os portugueses querem ter mais acesso, mas presumo que aquelas edificantes personagens merecerão o maior entusiasmo, já visível nas grandes audiências que continuam a obter. Nunca vi o programa, mas quando lá “caio” por engano mudo logo de canal, a minha questão é se existem crianças a ver e qual o ganho de quem nunca falta à chamada.

Os portugueses, que são um dos povos com mais telemóveis do mundo, continuam a pesquisar no Google mais notícias sobre esses aparelhos, que agora até nos trazem a Internet sem qualquer esforço. E, apesar da crise, continuam à procura das melhores ofertas, depois de mais uma consulta na net.

Faço votos para que as pesquisas em 2015 sejam um pouco mais interessantes, por exemplo como falar e escrever sem erros, como se poderá colaborar mais na escola dos filhos, onde estarão mais ajudas para as famílias pobres, como poderemos melhorar o bairro em que vivemos. Sem cultura, o país pouco evoluirá, mesmo que as compras de Natal tenham demonstrado que vivemos momentos de menor sufoco.

2. 2015 será um ano decisivo na política nacional. Com hipóteses para vencer todas as eleições, o Partido Socialista precisa de uma vitória concludente nas legislativas, um candidato presidencial anunciado o mais tardar no final do próximo Verão e a separação clara das questões da justiça que alguns, quase sempre às escondidas, pretendem utilizar para baralhar o jogo.

O Governo deve ir até ao fim e a teimosia em não antecipar em alguns meses as eleições legislativas contribuirá para termos um Outono pouco definido em termos de propostas para o país. O problema é que os portugueses pouco se interessam por política e ainda menos por livros, cinema ou teatro. Com tanta gente agarrada às notícias sobre os protagonistas dos reality shows, esperemos que reste alguém interessado em evoluir como pessoa, ou com curiosidade nas grandes questões do nosso tempo.     

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