Maioria dos problemas visuais das crianças é recuperável, mas diagnóstico é tardio

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Se não forem detectadas anomalias antes, o primeiro rastreio visual deve ser feito por volta dos cinco anos Pedro Cunha

A ambliopia, patologia visual que mais afecta as crianças portuguesas, é quase sempre tratável, mas o diagnóstico e a terapêutica chegam muitas vezes demasiado tarde para permitir uma recuperação total, avisam os especialistas.

“Se for corrigida rapidamente, a ambliopia (olho preguiçoso) é totalmente recuperável em muitos casos, só que as crianças chegam demasiado tarde às consultas”, avisa o presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, António Travassos, na véspera do Dia Mundial da Visão.

O problema está no topo das prioridades do Programa Nacional para a Saúde da Visão, cujos principais objectivos são reduzir os problemas de visão não diagnosticados e prevenir a cegueira. “Em oftalmologia, a prevenção da doença é o diagnóstico”, sublinha o coordenador do programa, António Castanheira Dinis.

As crianças são uma das linhas prioritárias de acção deste programa, que pretende igualmente actuar ao nível da prevenção e tratamento de glaucoma, retinopatia diabética, cataratas e degenerescência macular relacionada com a idade.

“O que se propõe é que as crianças façam um rastreio visual por volta dos cinco anos, antes de entrarem na escola”, explica Castanheira Dinis. O rastreio deverá ser feito nos centros de saúde e só as crianças a quem forem diagnosticados problemas devem ser encaminhadas para consultas nos hospitais, de acordo com um guia de boas práticas oftalmológicas que estabelece estas orientações.

O oftalmologista admite que apenas “um a dois por cento das crianças tenham problemas complexos e precisem de ser referenciadas para os serviços de oftalmologia dos hospitais”, percentagem que poderá subir, no máximo, “até cinco por cento”.

Considerando que “o rastreio é importante para a detecção precoce e para desencadear os processes de tratamento da doença”, Castanheira Dinis adianta que o programa contém ainda um cronograma de avaliação que prevê que se façam novas despistagens - no caso das crianças em quem não foram detectadas doenças - aos 10 e aos 20 anos. “Temos de dar um salto etário, senão seria impraticável”, justifica o médico.

Castanheira Dinis afirma que estas medidas são essenciais para travar algumas doenças que podem levar à cegueira e realça que “uma criança que tenha uma ambliopia e não seja tratada a tempo pode deixar de ver daquele olho para sempre”.

O "oftalmologista" Magalhães

O presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia alerta para as dificuldades de detectar precocemente estes problemas: “Os pais podem não se aperceber logo porque as crianças podem ver bem de um dos olhos e fazerem uma vida normal.” António Travassos defende que o diagnóstico atempado pode ser feito desde que “os médicos e os pais exerçam correctamente as suas funções”.

Este oftalmologista desenvolveu um software para o computador Magalhães que permite às crianças do 1.º ciclo fazerem uma auto-avaliação da sua visão. “Se a acuidade visual não for normal, os dados recolhidos permitirão que as crianças sejam encaminhadas para os serviços de saúde e que sejam tratadas em tempo útil”, frisa.

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