A melhor maneira

Escrever é a melhor maneira de nos treslermos.

Qué sé yo? Esta pergunta, que me ensinou o meu querido amigo Carlos Quevedo, é uma resposta.

É uma afirmação de ignorância que, por ser verdadeira, é o contrário da curiosidade arrogante e falsamente inocente da pergunta Que sais-je? que a PUF (Presses universitaires de France) aproveita, desde 1941, para nos vender uns livrinhos baratos e curtos que nos dão a impressão de saber tudo, apesar de ficarem mais incompletos com cada ano que passa.

Qué sé yo? É uma confissão civilizada da impossibilidade de saber seja o que fôr. É triste verificar que cada vez é mais necessária.

Como emissor de opiniões sou acreditado e atacado como se eu tivesse um acesso especial à propaganda mentirosa (ou à verdade, que vem dar ao mesmo). Não tenho. Almas mais caridosas mas igualmente iludidas acham que, por ser eu a pessoa que escreve o que estão a ler, tenho uma relação privilegiada com a certeza.

Não tenho. A seguir a tudo o que eu digo ou escrevo – tal como todas as outras pessoas que dizem ou escrevem o que pensam, temporariamente e obrigadas – falta sempre acrescentar várias qualificações.

Como, por exemplo: “na minha volátil e mal fundamentada opinião. Ou: “segundo os meus confessados e nada universais preconceitos”. Cada coisa que digo é, fundamentalmente, uma expressão não só das coisas que ignoro como das coisas que erradamente penso saber.

Às vezes é enquanto escrevo o que penso que mudo de opinião. Escrever é a melhor maneira de nos treslermos.

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