Oposição ataca ministro da Economia por declarações sobre salários baixos

O ministro da Economia foi à China com o primeiro-ministro
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O ministro da Economia foi à China com o primeiro-ministro Tiago Petinga/Lusa
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Os partidos da oposição criticaram hoje a argumentação do ministro da Economia para atrair o investimento chinês. Manuel Pinho apresentou como uma mais-valia os baixos salários praticados em Portugal face à média da União Europeia.

O ministro, que acompanha o primeiro-ministro na visita à China, apelou ao investimento chinês em Portugal argumentando que os custos salariais são inferiores à média da União Europeia (UE) e têm uma menor pressão de aumento do que nos países do alargamento.

Essa foi uma de cinco razões apontadas por Manuel Pinho, perante uma plateia de empresários chineses, para o investimento em Portugal, durante o Fórum de Cooperação Empresarial Portugal China 2007.

PSD: declarações "com carácter terceiro-mundista"

"São declarações de uma infelicidade extrema e com carácter terceiro-mundista. Penso que só os países do terceiro mundo podem apresentar vantagens competitivas baseadas em baixos salários", criticou o deputado do PSD Miguel Frasquilho.

"Isto prova também a total desconfiança que o próprio ministro da Economia tem em relação à acção governativa. Dá a ideia de que o Governo não tem nada para apresentar em áreas fundamentais para o investimento estrangeiro", disse o social-democrata.

PCP: Governo não quer alterar modelo de desenvolvimento

O deputado comunista Jorge Machado disse que as declarações do ministro da Economia provam que o Governo não pretende alterar o modelo de desenvolvimento.

"Nunca tinha sido assim assumido pelo Governo que Portugal deve continuar com este modelo de desenvolvimento baseado nos baixos salários, mas a prática tem-no confirmado. Os aumentos de salários têm sido sempre inferiores à inflação", frisou Jorge Machado.

BE: "Contradição gritante com toda a retórica" do Governo

O deputado bloquista Fernando Rosas considerou que o ministro da Economia entrou "em contradição gritante" com "a retórica do Governo" sobre requalificação.

"É uma contradição gritante com toda a retórica da inovação e requalificação dos trabalhadores. De repente na visita à China o factor competitivo já é a mão-de-obra barata", criticou o deputado Fernando Rosas, em declarações à Lusa.

CDS-PP: declarações de Manuel Pinho são "inaceitáveis"

Para o CDS-PP, as declarações de Manuel Pinho são "inaceitáveis". O deputado centrista Diogo Feio lamentou mesmo que Portugal tenha sido apresentado aos empresários chineses "como uma espécie de paraíso da União Europeia pelo preço da mão-de-obra".

Diogo Feio disse mesmo à Lusa que "não queria acreditar" nas declarações do ministro da Economia, e afirmou que "se não fosse uma tragédia, teria de ser comédia". Realçou ainda que "o factor essencial da competitividade de uma economia não deve ser o preço da mão-de-obra".

"É mau demais para ser verdade. Apresentar Portugal como uma espécie de paraíso da União Europeia pelo preço da mão-de-obra é inaceitável, ainda para mais quando se está na China", acrescentou Diogo Feio.

"Só falta que vá à Arábia Saudita apresentar as areias de Portugal ou que nas Seicheles apresente o turismo como o nosso factor de competitividade", ironizou o deputado do CDS-PP.

"Os Verdes": salários baixos "são um instrumento"

O Partido "Os Verdes" também considerou, em comunicado, "inaceitável que um ministro, em nome do Governo português, e com as enormes responsabilidades que tem, se vanglorie dos baixos salários que os portugueses recebem e demonstre que esses baixos salários são um instrumento que o Governo está a usar também para promover potenciais investimentos externos".
Pinho também falou da segurança e infra-estruturas

No seu discurso na abertura do Fórum de Cooperação Empresarial Portugal China 2007, que foi presidido pelo primeiro-ministro, José Sócrates, Manuel Pinho apresentou "cinco grandes razões" para os empresários chineses investirem em Portugal.

O ministro salientou, além dos baixos salários, as vantagens de Portugal ser membro da União Europeia e possuir relações "privilegiadas" no continente africano e com o Brasil, mas também "as condições ideais" ao nível interno.

"Portugal é um país em que há segurança e estabilidade política, características que não se registam em outros países europeus", observou, antes de se referir ao conjunto de infra-estruturas existentes no país.

"Temos em Portugal bons portos, boas vias rodoviárias", disse Manuel Pinho, apontando depois como factores de competitividade do país algumas medidas tomadas pelo Governo ao nível da qualificação dos cidadãos.

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