O honoris causa António Guterres aguarda “serenamente” pelas eleições na ONU

Antigo primeiro-ministro e ex-alto-comissário do ACNUR recebeu título pela Universidade de Coimbra e disse que candidatura à ONU é uma forma de retribuição.

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Sergio Azenha
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António Guterres justifica a candidatura a secretário-geral da ONU com a “obrigação” de se colocar ao serviço de “quem mais precisa”. Aquele que foi o responsável pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) ao longo de uma década diz “aguardar serenamente” a decisão dos Estados-membros que terá lugar pela primeira vez este ano.

Ao considerar que “o futuro é complicado” – tendo em conta a pré-condição não formal de que deva ser um candidato da Europa de leste ou uma mulher a assumir o cargo –, António Guterres diz que esta é “uma situação complexa”, mas que sente a “obrigação” de “fazer render” aquilo que recebeu na sua carreira na política “ao serviço de quem mais precisa”. E a forma de o fazer é candidatando-se ao mais alto cargo da diplomacia internacional.

O também antigo primeiro-ministro português falava aos jornalistas neste domingo, no final da cerimónia em que recebeu o grau de doutor honoris causa pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) como reconhecimento pelo “trabalho notável que prosseguiu ao longo do seu mandato de alto-comissário das Nações Unidas”.

No sábado, numa conferência na FEUC, António Guterres voltou a chamar a atenção para o risco de colapso do sistema de protecção de refugiados, apontando para o perigo de se estar “a chegar a um beco sem saída”.

Foi uma manhã de domingo movimentada, em Coimbra. Ao habitual corrupio de turistas, juntaram-se na Alta universitária estudantes e suas famílias (a tradicional cerimónia académica da bênção das pastas coincidiu no dia com a distinção de António Guterres) e cerca de três centenas de manifestantes pelos colégios com contrato de associação.

A cerimónia decorreu na Sala dos Grandes Actos, mais conhecida como "Sala dos Capelos". Antes, o tradicional cortejo académico partira da Biblioteca Joanina com doutorados e catedráticos UC, entre os quais se podia identificar antigos e actuais governantes, como o efémero ministro da Administração Interna Calvão da Silva, ou a ministra da Modernização Administrativa no actual executivo socialista, Maria Manuel Leitão Marques.

Na Sala dos Capelos, Guterres contornou o protocolo para realçar que este grau lhe confere a “possibilidade de ajudar a redimir aquela que foi a decisão mais difícil” da sua vida: a de deixar a universidade. Tendo frequentado o Instituto Superior Técnico no início da década de 70, o homenageado lembrou que a carreira académica foi interrompida por “uma outra vocação”, a política, despertada pelos bairros de lata de Lisboa, pelo 25 de Abril e consequente período revolucionário. Sobre o ACNUR sublinhou que lhe deu a “possibilidade de servir os mais vulneráveis dos vulneráveis, vitimas desta multiplicação terrível de conflitos e de perseguições a que assistimos no mundo moderno”.

No “discurso de elogio” ao doutor honoris causa, o director da FEUC, José Reis, referiu-se a António Guterres como “o nosso candidato a secretário-geral da ONU”, lembrando o seu papel nos dez anos em que desempenhou funções nas Nações Unidas. Já virado para a política interna, José Reis vincou o “papel essencial e incontornável no momento crucial em que o país precisou dele”.

Neste capítulo, na memória colectiva paira ainda a demissão de Guterres quando chefiava um governo minoritário, após derrota socialista nas eleições autárquicas de 2001. O director da FEUC responsabilizou a “trivialidade do ambiente político português” e uma “certa grosseria” pela criação de uma “fortíssima injustiça acerca da forma como terminou a sua fase mais activa na política interna”: “Inventou-se a tese do abandono”, considerou.

Se o elogio protocolar ficou a cargo de José Reis, Marcelo foi menos comedido na forma. Referindo-se ao candidato a secretário-geral da ONU como “a figura mais brilhante” da sua geração e lembrando a proximidade de ter feito “uma boa parte do percurso” com ele, o Presidente da República comentou que António Guterres “foi o primeiro-ministro mais amado em Portugal”. “Uns suscitaram grandes paixões, mas também grandes oposições, ele nunca teve nenhuma oposição [no país]”, afirmou aos jornalistas no final da cerimónia.

António Costa, que foi ministro de António Guterres, saiu sem prestar declarações e seguiu  para Istambul, onde, com o candidato a secretário-geral das ONU, vai participar na primeira Conferência Humanitária das Nações Unidas.

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