A campanha vista por Nelo Aguiar, “cantador ao desafio”

Sampaio da Nóvoa encontrou em Barcelos, a sua “identidade” minhota. E teve uma manhã animada ao som do acordeão.

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Antes de começar a cantar, Nelo Aguiar, de Arcozelo, “afina as cordas vocais”, com um cálice de Porto. Óculos escuros, calças apertadas azuis com pintas brancas, blusão cinzento e preto, sempre ao lado do jovem Daniel, que dedilha as teclas do acordeão. “Já cá está o professor/ veio a Barcelos nas calmas/ para o futuro Presidente/ uma salva de palmas.” Mas que ninguém se engane: Aguiar não é um cantador de rima fácil. “Por isso é que estou aqui/ a Marcelo Rebelo de Sousa/ você mande-o p’rá TVI.”

Modesto, embora lidere o cortejo de perto de cem apoiantes de Nóvoa, e não se acanhe com as muitas câmaras que estão a gravar o improviso, Aguiar confessa: “Canto melhor à tarde”, por motivos óbvios, que é quando a “afinação” já vai mais avançada.

O desfile avança, rumo ao mercado, passando pela pastelaria Arantes, onde Nóvoa se recorda dos célebres sonhos que ali comia, mas na altura pareciam mais pequenos. Talvez fossem cortados em pedaços pelo seu pai, admite o candidato, depois de receber a garantia que o doce se mantém do mesmo tamanho.

Chegado ao mercado, Nóvoa cumprimenta as vendedoras – mas elas só perguntam pelo “Tino”, o candidato Vitorino Silva. “Ele é que vai abrir o ferrolho, f....-..”, elogia uma voz feminina assertiva. Nelo está calado. Mas quando recomeça, não há vendedora que não acompanhe a desgarrada com palmas a preceito.

Nóvoa confessa que a visita às terras do Norte lhe traz memórias: “Há uma identidade”, confessa, “a maneira como as pessoas se olham e se cumprimentam.” “Parece que estou a ouvir as minhas tias a falar”, graceja.

Nas rimas de Aguiar cabe um programa político, pobreza, igualdade, tudo.

Mas a campanha não pode ser só poesia. Há comentários a fazer, acusações a rebater. Como a de Manuel Alegre a Nóvoa, de que teria a intenção de formar um partido. “Jamais o faria, foi um compromisso que assumi desde o primeiro dia da minha candidatura”, garante o candidato, “é completamente impensável”. Recorde-se que na entrevista ao PÚBLICO deste sábado, Nóvoa declara ter uma "enorme consideração pelos partidos"

Pergunta puxa pergunta e a seguinte é directa: “Apelaria à desistência de algum candidato?” “Não apelo à desistência de ninguém. Seria um gesto contrário à minha consciência democrática. Cada um tem o seu contributo a dar, o seu ponto de vista.”

E António Costa? “Tomou a decisão que tomou, e eu respeito inteiramente.” Na segunda-volta, espera “ter toda a gente” do seu lado. No cenário “improvável” de não ser o candidato a passar à segunda-volta, Nóvoa garante que “o candidato que passar” terá o seu apoio.

Nelo Aguiar encontra Domingos Rodrigues na Rua D. António Barroso, a antiga Rua Direita, pedonal. E finalmente tem alguém para cantar ao desafio. “Diz-me lá oh Rodrigues/ tu que é um grande cantador/ diz lá aqui à gente/ se votas no professor.” Rodrigues é de São Veríssimo e responde à altura, mas o seu timbre é menos  grave. “Ouça senhor Presidente/ ouça com muita atenção/tem de falar para o povo/ e falar-lhe ao coração.”

Se assim for, ainda que a campanha vá exactamente a meio, Aguiar já tem uma ideia concreta. “Seja bem vindo a Barcelos/ homem de inteligência/ você vai ganhar as eleições/ e eu vou cantar à Presidência.”

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