Ó Portugal se fosses só três sílabas de plástico, que devia ser proibido

O imposto sobre os sacos de plástico é estupenda medida. Mas, para mim, é escusada. Tenho um amor intenso pelo nosso planeta e não precisei dela para deixar de usar sacos de plástico. Para se ter ideia da minha defesa implacável da Terra, de cada vez que vejo uma pessoa a sair do Minipreço cheia de sacos, apetece-me esganar um gato, jogá-lo aos seus pés e dizer: “Vê? É isto que acontece quando se engasga com um saco de plástico!”

Há muito tempo que a minha ética ecológica me levou a abandonar os sacos de plástico. Em vez de transportar vitualhas em pequenas bolsas de morte, adoptei um orfãozinho que me carrega as compras. Sinto-me uma pessoa muito melhor. Pelos meus cálculos, desde que tenho o Alcino, já poupei à Mãe Gaia mais de 10 mil sacos de plástico.

O único problema com o Alcino é que se cansa facilmente. Costumo fazer as compras do mês no El Corte Inglés e o Alcino precisa entre sete a nove viagens de ida e volta para completar o transporte. Ao princípio, pedia-me para o deixar ir de autocarro, mas percebeu depressa que sou intransigente com gastos supérfluos de gasolina e prefiro que ele vá a pé. Aborrece-me um bocado que às vezes traga os ovos na primeira viagem e depois me faça esperar até à 5.ª volta pelo bacon, mas fico mais em paz com a minha consciência. Não sou egoísta, não me preocupo só comigo, a pegada ecológica do Alcino também me angustia.

Do mesmo modo, abdiquei de sacos de plástico para guardar lixo. Para não correr o risco de agredir o ambiente, entrego o lixo ao Alcino, que o acondiciona nos bolsos até passar por um contentor onde o possa deitar fora. Nos bolsos da frente, lixo orgânico (esquerda) e papel (direita). Nos bolsos de trás, vidro (esquerda) e plástico e metal (direita). Levo a reciclagem muito a sério.

O meu repúdio ao plástico é total. Também não uso tupperwares. Cá em casa não se guardam restos. A comida que sobra é para o Alcino. Mais precisamente para o bolso da camisa do Alcino, que a transporta até aos bidons de compostagem, no jardim de minha casa.

Admito que há vezes em que tenho pena de não ter sacos de plástico: é nos dias de vento, quando passeio o meu cão e ele começa a lutar com um saco de plástico esvoaçante. Como gosta o canito de sacos de plástico esvoaçantes! Fica tão excitado que chega a fazer dois cocós. É nessas alturas que dou graças a Deus por o Alcino ter duas mãos para os recolher e transportar até ao bidon da compostagem.

Mas esta lei não resolve nada enquanto não se mudarem mentalidades. O grande problema é a falta de educação ecológica. Quem é que vemos com sacos de plástico na rua? Velhinhos com tralha. Sem-abrigo a impermeabilizar sapatos. Crianças que não têm mochilas. Pobres em geral. Pessoas que não têm escrúpulo ambiental. Já as pessoas com mais formação sabem que devem abster-se destes materiais não biodegradáveis. Aposto que, apesar de tudo, Ricardo Salgado nunca transportou dinheiro em sacos de plástico.

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