No teu aniversário

Enquanto houver amor parecerá sempre a primeira vez. É a primeira vez. Comecei a amar-te agora. E agora estou a recomeçar.

 

Para a Maria João

Só quem ama ou nunca amou diz mal do amor. O amor pode prender. O amor pode magoar. O amor pode distrair. O amor pode enlouquecer. O amor, para quem ama, pode fazer o que quiser. Que podemos nós fazer contra ele, mesmo que quiséssemos, mesmo que fôssemos capazes, que não queremos, nem somos?

O amor pode restringir, limitando-nos a quem amamos, fazendo-nos concentrar sobre a pessoa amada, incapazes de nos fartarmos, desejando sempre aproximarmo-nos mais.

Mas, pelo menos, não nos cala. Deixa-nos falar, obriga-nos a falar: é um prazer falar de amor quando se está apaixonado. Maior prazer ainda é sabermos que nos ouve a pessoa amada. E que aquela declaração incansável é apenas mais uma troca de palavras numa infinita conversa romântica em que tudo é avassalador e o fim do mundo se confunde com o princípio, ao virar de cada sílaba, com os corações a bater dentro das bocas, ora subindo, ora sossegando, como se fôssemos reféns um do outro e estivéssemos a negociar as nossas vidas e fizéssemos questão de nos mostrarmos dispostos a tudo - desde que nunca mais acabassem as negociações.

O amor enfia-se até nas mais pobres definições que arranjamos. É uma elegância que o amor tem, que tu tens, de não recusar quaisquer palavras: "sim, estas também me servem, também estas me ficam bem".

Tudo o que por amor foi dito precisa de ser dito outra vez. Enquanto houver amor parecerá sempre a primeira vez. É a primeira vez. Comecei a amar-te agora. E agora estou a recomeçar.

 

 

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