Famílias de educador único

1.Segundo o jornal PÚBLICO de 15 de Maio, o número de famílias monoparentais tem vindo a aumentar. Em 2011, 14,9% das famílias eram constituídas por pai ou mãe, sós, com os filhos, mas a grande maioria destes agregados familiares é composto por mãe e filhos. Assim, quase 13% das famílias portuguesas são constituídas apenas por mãe e filhos. Entre 1991 e 2011, a monoparentalidade tendo como causa a ruptura conjugal (divórcio ou separação) subiu de 21,9% para 43,4%. 

A questão do divórcio é central nas sociedades ocidentais dos nossos dias e deveria merecer maior reflexão. Ao contrário do que se possa pensar, a família não é considerada menos importante e continua a aparecer como fundamental em todos os estudos e inquéritos de opinião. O que acontece é uma maior importância dada ao amor, que se quer quase absoluto, e uma dificuldade em lidar com as vicissitudes inevitáveis numa relação conjugal prolongada. Por essa razão, há a crença de que o divórcio trará alívio e uma nova relação amorosa devolverá a felicidade perdida. Os números confirmam esta ideia: se bem que haja cada vez menos primeiros casamentos (com aumento de uniões de facto — de 3,9% em 1991 para 13,3% em 2011 — e crescimento do número de casais living apart together, como desenvolvo no meu livro Labirinto de Mágoas —, os segundos casamentos de divorciados tendem a aumentar.

A estatística fornece importantes informações, mas nada nos diz sobre a intimidade destas novas famílias. É um facto que a família institucional e indissolúvel do Estado Novo, característica da primeira metade do século passado, se precarizou nos últimos 30 anos, dando origem a famílias monoparentais, recompostas, por vezes instáveis, quase sempre com poucos filhos. A questão permanece em aberto: como se educam agora os filhos? A instabilidade inevitável no período do divórcio consegue ser superada com o decorrer do tempo pela estabilização da família recomposta? Qual o impacto das mudanças familiares no desenvolvimento das crianças?

Só vos posso, por enquanto, trazer informação baseada na terapia de muitas famílias. E não posso esquecer o que muitas mães divorciadas me dizem: “Sou a única a educar, tudo está em cima de mim. O pai limita-se a um fim-de-semana quinzenal em que compra os filhos com presentes.”

A realidade, todavia, é muito mais complexa. Muitos destes pais foram privados de um convívio regular com os filhos, por problemas ligados ao divórcio emocional (bem mais difícil do que o divórcio legal). O tribunal foi sede de novos conflitos, porque a demora intolerável afecta a qualidade da decisão judicial e todo o sistema continua a privilegiar a vitória nas sessões à qualidade da vida futura da criança. Sem assessoria técnica e com formação muitas vezes insuficiente para fundamentar as decisões, os juízes acabam por decidir sem ouvir, a tempo e com cuidado, todos os implicados na educação dos mais novos.

A família de educador único terá de ser sempre uma excepção, só aceitável em circunstâncias raras de isolamento da mãe. Educar uma criança é uma tarefa difícil, ninguém à sua volta deve ser dispensado de colaborar. 

2. Hoje é dia de eleições. A campanha, triste e desinteressante, foi pouco mobilizadora. Votar, no entanto, continua a ser importante: é a forma mais simples de mostrarmos a nossa participação nas decisões dos que nos governam. 

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