Cartas ao director

Afectos

“É inacreditável que hoje se passeiam mais os cães do que as crianças.” As palavras de Carlos Neto, docente e investigador da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, são desconcertantes. Os cães merecem o nosso maior respeito. São inúmeros os relatos de situações em que os canídeos revelam-se como verdadeiros amigos do homem, nomeadamente de crianças. Contudo, crianças são crianças. Que bom seria passearmos crianças e canídeos. Para onde caminham os avós, pais e mães do jardim à beira-mar plantado de smartphones e tablets de última geração?

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Intranquilidades

Toda a evolução que nos tem vindo a acompanhar nestas últimas cinco décadas, muitíssimo positiva em certos aspectos como a independência da mulher, a igualdade de sexos ou a maior esperança de vida, tem-nos trazido mais bem-estar, mas em simultâneo cobrindo-nos de muitas intranquilidades. Intranquilidades que disfarçamos, como se não existissem e que só deixamos que “escapem do armário” quando situações demasiado graves e incontroláveis nos acontecem. [...] Claro que Portugal evoluiu muito depois do 25 de Abril e abriu-se finalmente ao exterior, mas ficou com muitos tiques de muitos anos de ditadura, de religião única, de protecção de um qualquer “paizinho providencial” que nos guardava e amparava. [...] E hoje temos muita tralha que não funciona. E ao primeiro abanão, à primeira urgência, tudo cai que nem um baralho de cartas. [...]

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

Religião

O texto do sacerdote jesuíta Luís Ferreira do Amaral, “A religião: uma força retrógrada e opressora?” [PÚBLICO, 12.07.17], questiona a influência da religião católica na noção actual de dignidade humana, direitos humanos, solidariedade, etc. E conclui que “talvez possamos ter ainda algo a aprender da inspiração dessa mesma tradição que possibilitou que chegássemos onde chegámos, no que à consciência sobre a dignidade humana diz respeito”.

Discordo! Chegámos onde chegámos em termos de valores da dignidade e de “direitos humanos”, não por causa da religião, mas apesar dela. A História da Igreja está manchada de sangue, de perseguições, de terror, de punições, de excomunhões, de cumplicidades com o poder temporal; e sempre em nome de uma Bíblia que agora nos pedem para não ler de forma literal, que são aforismas. Mas foi em nome da leitura literal da Bíblia que a Igreja queimou, excomungou, matou, proclamou dogmas, redigiu preceitos. [...] A religião foi e é uma força retrógrada e opressora; a sociedade ocidental estaria muito mais desenvolvida em termo éticos e morais se a Igreja não tivesse sido tão nefasta ao progresso humano e social, se a Igreja não tivesse definido como base educativa o pecado, a culpa, a angústia. Ai do homem que precisa de Deus, ou da religião, para praticar o bem, “amar o próximo”, ser solidário, respeitar o outro...

Norberto de Oliveira Manso, Sabugal

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