Cartas à Directora

Com tanta viagem paga…

O primeiro-ministro deu como encerrado o caso das viagens pagas aos secretários de Estado e a esquerda parlamentar diz que não é matéria com gravidade e premência que justificasse uma comissão permanente extraordinária em Agosto, como a direita queria, adiando o debate para Setembro. Acho bem. Com tanto problema com que o país se confronta – alguns deles bastante graves, como o desemprego e a pobreza –, ninguém compreenderia que a AR fosse reunir de urgência, para debater um assunto menor, de lana e caprina, que, embora possa ser condenável do ponto de vista ético, não deveria fazer parte, pelas razões que já aduzi, da agenda de prioridades da nossa classe política. E digo mais: com tanta viagem paga que os deputados têm, não sei se terão autoridade moral ou legitimidade para debater um assunto que diz respeito também a viagens pagas. E depois não se lamentem por terem uma má imagem junto da opinião pública. Quem com ferro mata, com ferro morre.

Simões Ilharco, Lisboa

Artigos científicos em jornais generalistas?

Sei que o assunto pode ser causador de alguma susceptibilidade mas... é a minha opinião. Estou a falar de alguns artigos  de índole científica que, como é o caso do escrito por Helena Cortez-Pinto, Professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, intitulado "Colangite biliar primária, uma doença enigmática" e dado à estampa no PÚBLICO de 11/Agosto.

Li-o com atenção e pergunto-me: tem razão de ser um artigo destes aparecer num jornal generalista? Não é uma doença infecciosa e tem baixa prevalência, porquê, portanto, esta ênfase e neste local? A própria autora releva aquelas características e foca que "é de causa desconhecida" e daí que, mesmo que use um léxico comum, este não junta nada de valorativo nesta escolha do local onde o publicou. Bem diferente é o artigo de José Cotter, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, também aparecido no PÚBLICO de há uns dias atrás. Este, a propósito de ser "o dia da Hepatite C" (que motivou aliás uma excelente e criativa capa por parte do jornal) escreveu generalidades muito didácticas sobre hepatites infecciosas, imensamente úteis para qualquer cidadão comum. Aí sim, havia uma razão, ainda mais porque acabou por dar uma atenção mais focada à Hepatite C  e ao recente medicamento muito eficaz no tratamento da mesma.

Como não pretendo abrir polémica mas antes manifestar uma saudável discordância, por aqui me fico.

Fernando Cardoso Rodrigues, pediatra e gastrenterogista pediátrico, aposentado, Porto

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