Cartas à Directora

O que nos diz o “Brexit”?

Após longas semanas de debates, campanha e contagem de espingardas de ambas as partes, os defensores do “Brexit” saíram vencedores do referendo. Os principais perdedores serão os cidadãos e empresas britânicas, que deixarão de beneficiar de um imenso mercado com mais de 500 milhões de consumidores, com o qual possuem uma relação comercial extremamente favorável. Além disso, a bolsa de Londres foi suportada durante anos por grandes multinacionais, que a utilizavam como plataforma para penetrar no mercado europeu. Mesmo as maiores empresas do espaço comunitário estavam cotadas no Reino Unido e agora serão incentivadas a deslocar a sua cotação para outras bolsas alternativas no espaço comunitário, como Frankfurt. Provavelmente, os próprios cidadãos britânicos irão perceber que, num mundo globalizado, não será a saída da União Europeia a melhor resposta para os problemas de imigração e terrorismo, acabando mesmo por dificultar as operações e o fornecimento de informações entre países. Na realidade, o Reino Unido sempre esteve fora das grandes decisões europeias como a adesão à moeda única, nunca foi um grande contribuinte financeiro para o orçamento comunitário e sobretudo sempre constituiu um entrave à aprovação de importantes medidas de cooperação. Em relação à União Europeia, a possibilidade de fragmentação do projecto europeu, associado ao crescimento dos movimentos de extrema-direita e ao surgimento de novos referendos na Holanda e França, coloca enormes desafios a Bruxelas e exige uma postura firme e de apoio convicto a todos os países que pertencem à organização. Mais do que uma ameaça, o “Brexit” pode representar uma oportunidade única para a União Europeia alterar a sua concepção, promover a democracia e os direitos dos cidadãos, alterar os modos de decisão e estabelecer a solidariedade e a cooperação como base da boa governança. No meio de tudo, o Reino Unido acabará mais pobre, isolado, frágil e menos democrático e nem sequer o seu principal propósito, leia-se redução dos fluxos migratórios, irão conseguir solucionar.  

João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim                   

Selecção e optimismo

O comportamento da nossa selecção em França, que tem as meias-finais à vista, evidencia que era mais justificável o optimismo de António Costa, para não falar do seleccionador, do que o pessimismo de Marcelo. Este chegou mesmo a afirmar que, perante o optimismo, para ele excessivo, do primeiro-ministro e do seleccionador, se sentia na obrigação de refrear o ímpeto dos portugueses. Claro que Portugal ainda não é campeão da Europa – a probabilidade de o ser é maior se Renato Sanches e Quaresma forem mais utilizados –, mas o que já fez, até agora, e mesmo que nada tivesse feito, torna altamente condenável a atitude do Presidente, que tem de ser o primeiro, dado o cargo que ocupa, a incutir toda a confiança na equipa de todos nós, para usar a expressão feliz de Ricardo Ornellas, que o tempo consagrou. Temos um Pesidente que, além de falar de mais, se assemelha a um velho do Restelo. Não ficará na história.

Simões Ilharco, Lisboa

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