Cartas à Directora

Consequências do “Brexit”

A saída do Reino Unido da União Europeia poderá ter graves consequências para Portugal. Para além do impacto directo de cerca de 400 milhões de euros, entre exportação de bens, serviços e investimentos, existem efeitos indirectos igualmente relevantes. Nas vésperas do referendo e num cenário de incerteza, os investidores estão a penalizar fortemente a divida pública nacional, exigindo uma taxa de juro no mercado secundário, de 3,3%, mais do dobro daquilo que é exigido à nossa vizinha Espanha. A possibilidade de desintegração da zona euro e da própria União Europeia constituem o rastilho quase perfeito, para que Portugal se veja a braços com um novo pedido de ajuda internacional. Por outro lado, o governo deverá acautelar a posição e estatuto do emigrantes portugueses em terras britânicas, e dos investimentos britânicos em Portugal, de forma a minimizar o impacto directo na economia e se possível procurar encontrar meios de colaboração reciproca. Mesmo que o “não” vença, o acordo “sacado” por David Cameron a Bruxelas poderá afectar milhares de emigrantes nacionais no Reino Unido. Estas concessões garantem ao governo britânico a possibilidade de cortar os benefícios sociais a um conjunto alargado de famílias portuguesas, constituindo uma espécie de primeiro passo, para o seu regresso, sobretudo numa altura em que os custos de vida tendem a agravar-se substancialmente em virtude da bolha imobiliária Londrina. A União Europeia deveria ter adoptado uma postura mais “dura” nas negociações, uma vez que, um eventual “Brexit” teria consequências mais graves para a própria economia britânica que deixaria de ter acesso a um mercado único de mais de 500 milhões de consumidores. Além disso, o Reino Unido é apenas o oitavo maior contribuinte (em 10) para o orçamento comunitário, dispensando uma verba próxima dos valores per capita pagos pela Noruega, país que não pertencendo à União Europeia, retira benefícios do acesso ao mercado único Europeu. Cria-se ainda a possibilidade de outros países, como a Itália ou a Espanha, de recorrerem ao mesmo tipo de ameaças para retirarem dividendos em prejuízo de terceiros e contribuindo para destabilizar e fragmentar a União Política e económica Europeia.

J. A.do Poço Ramos, Póvoa de Varzim

 

Por aqui, por favor…

Se as contas não me falham terão sido nove as vezes em que ouvimos uma instrução destas, para mudarmos de local, à frente, atrás ou no meio dos atores, que iam percorrendo vários locais no interior e no exterior do Museu Nacional da Imprensa no Porto, num espetáculo recentemente promovido pelas “Produções Suplementares”, inspirado no romance O Idiota, de Dostoievsky.

Foram duas horas e meia de uma experiência excelente e diferente. A proximidade dos atores e o estar dentro do cenário criava uma atmosfera muito diferente da clássica plateia de um lado e o elevado palco do outro. Mesmo, quando nesse contexto clássico, os atores atravessam pontualmente a plateia, não deixa de ser apenas uma espécie de invasão, uma breve incursão no espaço do público.

Ali não era assim. O espaço, por vezes íntimo, por vezes desconfortável era único e partilhado. Mais do que assistir, era participar.  A juventude pressentida no elenco, era também um elemento desafiante e positivo num país que parece gostar de se fechar em "monstros sagrados". Indiscutivelmente é de louvar a coragem de abrir novos espaços, novos caminhos e com novos intervenientes.

Estará agora em cena uma nova produção na Casa da Prelada, um “Sonho de S. João”, a partir de “Sonho de uma noite de Verão, de W. Shakespeare”. Aí irei e recomendo!

Carlos J F Sampaio, Esposende

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