Cartas à Directora

A saúde da política (e vice-versa)

“É sabido que os factores sócio-económicos determinam disparidades nos comportamentos relacionados com a saúde e na incidência de doenças e na mortalidade”.

É o que vem realçar um estudo de três investigadoras (Fátima Pina, Carla Oliveira e Sandra Alves), do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, publicado na revista Journal of Epidemiology and Community Health e a que o Público de 25/2/2016 dá (merecido) relevo.

Considerando este estudo (e não só este, mesmo, simplesmente, a vivência do quotidiano que “vemos, ouvimos e lemos”), até podem parecer impertinentes, por desnecessárias, as perguntas: Saúde: Muito, mas mesmo muito, (também) determinantes sociais (económicas, laborais, etc.)? Ou, principalmente, determinantes comportamentais?

Contudo, a pertinência e oportunidade destas perguntas advêm, claro, daquele estudo científico mas, também, como mensagem de alerta para o quanto a esses factores sócio-económicos subjazem ideologias e decisões (e sobretudo práticas) políticas.

Vem isto a propósito do entendimento de um secretário de Estado (Dr. Fernando Leal da Costa) do governo anterior (rigorosamente, do anterior ao anterior, porque no anterior foi promovido a ministro … talvez também por isso) que “considera que os portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços” (Público de 29/12/2012).

Sendo o tal ex-secretário de Estado (e ex-ministro) médico, das duas uma (ou as duas…): ou como político lhe falta muito conhecimento (e sobretudo reconhecimento) e sensibilidade social (aliás, uma das mais graves “doenças” políticas dos governos que integrou) ou, como médico, desconhece algo absolutamente essencial na sua profissão: “Quem só sabe medicina nem medicina sabe” (professor Abel Salazar).

Não duvido minimamente que o conheça, como médico. Simplesmente, como político, pelos vistos (bem o sentimos nestes últimos quatro anos), não o reconheceu (e sobretudo praticou), então, na política de Saúde (e vice-versa).

João Fraga de Oliveira, Sta Cruz da Trapa

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