Cartas à Directora

A malícia dos políticos-advogados

Talvez a mais demolidora (e, se calhar, única) sentença proferida sobre a "Operação Marquês" tenha sido a crónica de João Miguel Tavares escrita no Público de 17 de Dezembro de 2015, intitulada "Retrato de Sócrates pelo próprio". É uma brilhante peça de acusação insusceptível de refutação credível pelos advogados mais matreiros.

Claro que a "Operação Marquês" acabará arquivada ou, no caso de haver julgamento, os arguidos absolvidos por "falta de provas"! Não por falta de categoria de Carlos Alexandre, Rosário Teixeira e outros magistrados, mas pelo facto das leis serem feitas por advogados. A "falta de provas", falando agora da delinquência dos políticos em geral, é fácil de invocar, em primeiro lugar porque quem tem o poder de governar (o poder legislativo) também tem o poder de apagar provas e, em segundo lugar, porque o ordenamento jurídico é feito pelos próprios políticos/advogados que, tanto nas linhas como nas entrelinhas, criam, em seu benefício, as mais variadas escapatórias.

Outra coisa muito clara é que, nos casos suspeitos de grande corrupção, a inversão do ónus da prova daria muito jeito à obtenção da verdade pela Justiça, mas há por aí muita gente incomodada com a inversão do ónus da prova, embora ela pudesse e devesse ser aplicada de forma selectiva e não indiscriminadamente (se, por exemplo, alguém se lembrasse de acusar outrem de ter assaltado o supermercado, não teria sentido a inversão do ónus da prova).

Como diz o poeta, "Perguntei a um amigo, com malícia/ qual é a profissão mais rendosa/ ainda que de Moral duvidosa/ mas insuspeita aos olhos da Polícia/ respondeu-me o amigo, sem malícia/ que a droga é rentável, mas perigosa/ enquanto a política é rendosa/ e domina a Justiça com perícia!

José Madureira, Porto

 

Viva o luxo!

Bolo-rainha, bolo-rei, aletria, rabanadas, filhoses de abóbora, lampreia de ovos, bolo de mel, trouxas-de-ovos, orelhas de abade, panetone italiano, filhoses e afamada bola mirandesa fazem parte das mesas de Natal de muitas famílias portuguesas. Os gramas de açúcar abraçam a diabetes! Somos amigos do fiel amigo, contudo, nem todas as famílias banqueteiam-se com um bacalhau do Atlântico, do género que é servido na cantina da Assembleia da República, merecedora de uma estrela Michelin! O peru, capão e o polvo vão ganhando as simpatias dos portugueses. Com 19,5% da população portuguesa em risco de pobreza, os deputados continuam com os sapatinhos cheios de regalias! A vaidade feminina é sinal de bom gosto, mas nem todas as mulheres se podem vestir como Marisa Matias, retratada na última edição da revista Vogue, com “camisa em seda, Gant, calça em ganga, Diesel e botas em pele Luís Onofre”. Se fosse Joana Amaral Dias, caía o Carmo e a Trindade! Viva o luxo da candidata do Bloco de Esquerda à presidência da República! Viva o Natal!

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

O PÚBLICO ERROU

Na edição de ontem, dia 22/12, a crítica de música "O Júbilo é Bach" saiu com a classificação errada. O crítico Pedro Boléo atribuiu ao espectáculo três estrelas e meia e não uma como saiu no jornal impresso.

 

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