Carlos Costa é o gentil Martins da regulação bancária

Há uma semana, todo o país aplaudiu a actuação desse Gentil Martins da regulação bancária que é Carlos Costa, o cirurgião que separou o siamês escorreito do siamês ruim, cheio de imparidades. Quer dizer, nem todo. Houve dois grupos de pessoas a quem a decisão do Moisés do Banco de Portugal, que apartou a água pura do esgoto financeiro, não agradou: o grupo de quem ficou pior — os accionistas; e o grupo de quem ficou muito pior — os trabalhadores do BES.

É que os accionistas limitaram-se a perder dinheiro. Já os trabalhadores do BES perderam estatuto. Ora, o dinheiro arranja-se, mas onde é que se vai encontrar estatuto? Especialmente para quem agora é, para todos os efeitos, trabalhador da função pública.

O que aconteceu foi horrível. Numa sexta-feira vai-se para casa colaborador do Espírito Santo, na segunda-feira volta-se ao trabalho como funcionário de uma repartição. O tablet que se deixou no escritório passou a ser uma agenda Ambar quando se volta ao serviço. Em vez de primos, trabalha-se agora com colegas. E há um chefe, em vez de um tio.

Já não há brunches, só buchas. O catering agora é cantina. O golfe é matraquilhos. É possível que grande parte dos trabalhadores do Novo Banco tenha um esgotamento. Vamos poder vê-los todos os dias a saírem do emprego de ombros caídos. O que não dá jeito nenhum para os homens: na função pública usa-se o casaco aos ombros. Sem suporte adequado, vai haver blazers no chão. Felizmente já não vão ser do Rosa e Teixeira. O que vale é que quem estiver deprimido poderá sempre recorrer aos seguros de saúde da companhia do grupo, a Tranqui... Ah, espera, já não dá.

Entretanto, o CR7 já foi substituído por Vítor Bruno, ponta-de-lança do Penafiel. E a Rita Blanco perdeu o papel de D. Inércia para uma actriz

modelo/galdéria que entrou na Casa dos Segredos e que também faz cinema português independente, mas daquele que só se consegue ver na Internet.

Até nas pequenas coisas se notou a mudança do BES para o Novo Banco. O papel higiénico, por exemplo, era da Renova. Aquele preto, que perde um pedaço em funcionalidade ao nível do contraste, mas ganha imenso em estilo. Desde esta semana que o papel higiénico é do mais baratucho que há no mercado: papel comercial da Rio Forte. Arranha é um bocado o ego.

Apesar de tudo, é injusto não referir que o que aconteceu ao BES teve um impacto muito positivo num grupo específico de portugueses: os emigrantes no Luxemburgo e na Suíça, onde as burlas do BES estão a ser investigadas. No fim de Agosto, quando voltarem aos países de acolhimento, em vez de tristonhos, hão-de ir sorridentes e orgulhosos. A sua cotação junto aos nativos vai subir. Portugal já não é o país dos trolhas e das sopeiras. Passou a ser o país dos banqueiros vigaristas que dão golpadas de milhões de euros. A partir de agora, quando um luxemburguês ou um suíço olharem com desdém xenófobo para um português, será um desdém xenófobo muito mais prestigiante.     

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