Rubiales, “escorraçado” pelo poder espanhol, já não arde em “lume brando”

O presidente da Federação espanhola, que beijou uma jogadora da selecção, já não responde a meras condenações públicas. O Governo, apesar de não poder demiti-lo, já lhe indicou a porta da saída.

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Pedro Sánchez e Luis Rubiales na recepção de ontem Reuters/JUAN MEDINA
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“As desculpas que o senhor Rubiales apresentou são insuficientes. Penso até que são inapropriadas e, por isso, tem de ir mais longe”. As palavras são de Pedro Sánchez, ainda primeiro-ministro de Espanha, que não permitiu, nesta terça-feira, que Luis Rubiales continue a “arder em lume brando”, depois do beijo na boca dado a Jenni Hermoso, jogadora da selecção espanhola, nos festejos da conquista do Mundial.

Menos polida foi Yolanda Díaz, vice-presidente e ministra do Trabalho, que definiu o gesto como uma “vergonha”. “Continuamos a pedir a demissão do homem que assediou e agrediu uma mulher. As suas desculpas são absolutamente inúteis", afirmou após uma audiência com o rei Felipe VI.

O “fogo” sob Rubiales está, agora, bem alto, depois de Sánchez e Díaz terem “escorraçado” verbalmente o presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Porquê apenas verbalmente? Porque, argumenta Sánchez, o Governo não tem poder para mais. “A RFEF não é dependente do governo”, apontou, também após audiência com o rei.

Depois da recepção à comitiva campeã, na qual Rubiales, quase sempre em segundo plano, terá sido recebido e cumprimentado com frieza por Sánchez, segundo reporta a imprensa espanhola, tem havido uma escalada de agressividade das condenações públicas. O fenómeno explica-se porque, depois polémica de domingo, o presidente da RFEF não se demitiu – até ver. Para já, o que há para ver é uma significativa “marcha-atrás” que Rubiales tem feito progressivamente.

Primeiro, ainda na Austrália, classificou como “idiotas” as críticas, argumentando que foi um momento de celebração e alegria. Mais tarde, quando percebeu que em Espanha havia um “barulho” diferente daquele que a comitiva ouvia na Austrália, Rubiales começou por pedir desculpa, num vídeo feito ainda no Qatar, na escala aérea – o El País diz que Rubiales tentou, sem sucesso, convencer Hermoso a participar no vídeo. Por fim, escudado pela comunicação da RFEF, acabou por proteger-se atrás da própria jogadora, que desvalorizou o caso – pelo menos, na teoria.

Inicialmente, em directo durante os festejos, Hermoso disse que não gostou do beijo e que não teve como reagir. Já nesta segunda-feira, uma nota publicada pelo organismo de futebol espanhol indicava que Hermoso considerou “um gesto mútuo totalmente espontâneo devido à imensa alegria de ganhar um Mundial”. “O presidente e eu temos uma óptima relação, o comportamento com todas é excelente e foi um gesto natural de afecto e gratidão. Ganhámos um Mundial e não nos vamos desviar do que é importante", terá dito a futebolista.

Nesta terça-feira surgiram notícias na imprensa espanhola que avançavam que as declarações da jogadora são falsas e foram uma manobra de “controlo de danos” pensada pela Federação, como resposta imediata à polémica.

Neste momento, além de Pedro Sánchez e Yolanda Díaz, já outras altas figuras do poder espanhol apontaram as “armas” a Rubiales: da ministra da Defesa ao secretário do Desporto, passando pela ministra para a Igualdade. Em geral, a sociedade espanhola não só condena o acto como pede a demissão do dirigente de futebol.

Até ver, sem sucesso.

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