Custos com medicamentos e dentistas são um encargo pesado para metade das famílias

Situação torna-se mais pesada, quando estão em causa famílias em risco de pobreza, revela Inquérito às Condições de Vida e Rendimento. Metade da população com 18 ou mais anos tem excesso de peso.

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Segundo o inquérito, 51,7% das famílias consideraram os encargos com cuidados dentários pesados Paulo Pimenta
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As despesas com a saúde são um encargo pesado para muitas famílias, sobretudo quando se fala de medicamentos e cuidados orais, revela o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2022, divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). A situação torna-se ainda mais pesada, quando estão em causa famílias em risco de pobreza.

De acordo com os resultados, a avaliação que as famílias fazem do peso dos encargos financeiros na saúde não é igual para todos os tipos de cuidados. E, apesar de ter havido uma diminuição destas proporções em relação a 2017, os números de 2022 ainda representam uma fatia importante das famílias. “Varia entre 45,8% no caso das que avaliam os cuidados médicos como um encargo algo pesado ou muito pesado, 49,7% no caso dos medicamentos e 51,7% no caso dos cuidados dentários”, realça o INE. Em 2017, estas percentagens eram, respectivamente, de 48,4%, 54,5% e 54,7%.

Para avaliar esta realidade, a questão foi dividida em três “pesos”: encargo muito pesado, algo pesado e não é um encargo pesado. No caso dos cuidados médicos, em que se incluem consultas, exames e tratamentos médicos, de medicina geral ou especializada, 12,7% das famílias disseram que representava um encargo muito pesado e 33,1% algo pesado. Já os medicamentos representavam um encargo muito pesado para 16,1% das famílias e algo pesado para 33,6% e os cuidados dentários um encargo muito pesado para 17,5% das famílias e algo pesado para 33,7%.

“Como seria expectável, a avaliação negativa do peso dos encargos financeiros com os cuidados de saúde é maior no caso das famílias em risco de pobreza, sobretudo para os cuidados dentários (59,4% de famílias em risco de pobreza) e para os medicamentos (61,6% de famílias em risco de pobreza)”, refere o documento, que acrescenta que foi na Madeira que se registaram as proporções mais elevadas de agregados familiares que avaliavam como pesados os encargos financeiros com os cuidados de saúde.

Numa avaliação ao acesso aos cuidados de saúde, segundo os resultados do inquérito, no ano passado 75,5% da população residente com 16 ou mais anos referiu ter consultado um médico de clínica geral nos 12 meses anteriores à entrevista. Em 2017 tinham sido 81,3%. Mas dos que foram ao médico de família em 2021/2022, quase 47% fizeram-no uma ou duas vezes e 28,6% três vezes ou mais.

Foram os mais velhos aqueles que mais consultaram um médico de clínica geral, assim como aqueles que têm menos escolaridade. “A população reformada foi a que mais consultou um médico de clínica geral, em proporção (92,4% referiu ter consultado) e em frequência de consultas (58,9% consultou pelo menos três vezes)”, lê-se no documento, referindo que “não existem diferenças substanciais no acesso às consultas de clínica geral entre a população em risco de pobreza e a restante população”.

O mesmo não acontece em relação aos cuidados dentários, com o INE a referir que “a proporção de pessoas em risco de pobreza que tinham consultado um médico dentista ou ortodontista era bastante mais baixa (44,2%) do que a obtida para a restante população (59,9%)”. Em termos gerais, em 2022, 57,4% da população residente com 16 ou mais anos declarou ter tido uma consulta de cuidados dentários nos 12 meses anteriores à entrevista. Uma percentagem maior do que a de 2017, que foi de 53,4%.

“Dos que tiveram uma consulta de saúde dentária em 2021/2022, 34,4% fizeram-no uma ou duas vezes e 23% fizeram-no três vezes ou mais”, mostra o relatório, acrescentando que as consultas com dentistas ou ortodontistas foram mais frequentes na população dos 16 aos 44 anos (entre 65% e 68%). Foi a população com ensino superior que mais procurou cuidados de saúde oral. Alentejo e Algarve (entre 49% e 51%, respectivamente) foram as regiões com percentagens mais baixas.

Relativamente a outras especialidades – que não as três identificadas anteriormente , nos 12 meses anteriores à entrevista 52,2% da população consultaram um médico (em 2017 foram 53,1%).

Mais de metade com excesso de peso

O excesso de peso continua a ser um problema para mais de metade da população com 18 ou mais anos: 37,3% tinham excesso de peso e 15,9% obesidade. “O excesso de peso afectava mais os homens (43,0%) do que as mulheres (32,3%) e a obesidade apresentava proporções semelhantes para ambos os sexos (cerca de 16%)”, lê-se no documento, que refere que era a população a partir dos 45 anos a mais atingida, a com menos nível de escolaridade e a reformada.

“A prevalência de excesso de peso ou obesidade atingia o valor mais elevado na Região Autónoma dos Açores, com 61,8% (38,4% com excesso de peso e 23,5% com obesidade). As regiões norte, Algarve e Área Metropolitana de Lisboa eram as menos afectadas pela condição de excesso de peso ou obesidade, com valores da ordem dos 51%-52%”, salienta o relatório.

“Os resultados obtidos através da aplicação da escala da insegurança alimentar (FIES) permitem concluir que, em 2022, 4,1% da população residente em Portugal se encontrava em situação de insegurança alimentar moderada e/ou grave, valor ligeiramente inferior ao obtido no ano anterior (4,3%). A insuficiência alimentar grave afectava menos de 1% da população”, adianta o INE.

Consumo de álcool e tabaco

O inquérito avaliou também o consumo de álcool e tabaco. Perto de um quinto da população com 16 ou mais anos disse ter consumido bebidas alcoólicas diariamente durante os 12 meses que precederam a entrevista. A percentagem altera-se com a frequência do consumo: 18,4% disseram algumas vezes por semana; 12,3% algumas vezes por mês e 14,2% mais raramente. Mais de um terço disse não ter consumido.

Os homens (31,5%) consumiram “significativamente mais” do que as mulheres (8,5%) e também existem diferenças importantes de acordo com a escolaridade. “A proporção de pessoas que consumiam álcool diariamente e com nível de escolaridade até ao ensino básico representava mais do dobro das que tinham completado o ensino superior.” Também os reformados (33,7%) indicaram ter consumido bebidas alcoólicas todos os dias, “valor bastante mais elevado do que o referido pela população activa (15,7% no caso dos empregados e 15,4% no caso dos desempregados)”.

Já o consumo de tabaco de forma regular (diariamente) foi indicado por cerca de 14,1% da população com 16 ou mais anos, “resultado ligeiramente inferior ao obtido com base no Inquérito Nacional de Saúde realizado em 2019 (14,2%)”. “A distribuição do consumo regular de tabaco era mais frequente no caso dos homens (19,7%) do que nas mulheres (9,2%), nas pessoas dos 25 aos 64 anos (entre 18% e 21%) e na população que tinha completado o ensino secundário (17,2%)”, lê-se.

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