Os principais destaques da primeira volta da Liga

Concluídas as primeiras 17 jornadas, eis alguns dos nomes que sobressaíram, pelas melhores ou piores razões, no campeonato português.

Foto
O Casa Pia é a grande sensação do campeonato até à data LUSA/MIGUEL A. LOPES

Com precisamente metade do campeonato cumprido, numa campanha que tem sido construída à custa de destaques, surpresas e algumas desilusões, o PÚBLICO procurou eleger figuras e equipas com impacto positivo e negativo nesta primeira fase. Na liderança, o Benfica — com figuras como Schmidt, Enzo, Rafa ou Gonçalo Ramos, enquanto líder dos goleadores — surge num plano partilhado com algumas surpresas, como o “europeu” Casa Pia e o Arouca (6.º e semifinalista da Taça da Liga), contrastando com campanhas insatisfatórias, desde o candidato Sporting aos aflitos Marítimo e Paços de Ferreira.

Foto

Enzo dispensou período de apresentação

Insistentemente apontado como provável protagonista de iminente transferência milionária (com cláusula de 120 milhões de euros) para palcos como a Premier League, o argentino Enzo Fernández, acabado de sagrar-se campeão do Mundo no Qatar, não precisou do típico período de adaptação, nem de qualquer tratamento especial para se afirmar como a pedra basilar do Benfica de Roger Schmidt. O jovem médio, de 22 anos, justificou instantaneamente e até em pleno a aposta numa equipa pressionada por três anos sem uma ida ao Marquês de Pombal. Enzo garantiu a consistência e fluidez que transformou o Benfica numa equipa difícil de contrariar, o que faz do internacional argentino uma das principais figuras da primeira volta da Liga portuguesa. Campeonato que pode até nem concluir, caso venha a confirmar-se o cenário idealizado pelo jogador e que já lhe valeu a única nódoa desde que aterrou em Portugal. Mas, apesar do episódio da viagem sem autorização e do consequente atraso no regresso à Luz depois do Mundial, Enzo superou as ondas de choque e voltou a mostrar o nível que o destacou. Ele, que acaba por superar a campanha de jogadores como Rafa, António Silva (chamado por Fernando Santos ao Mundial) e Gonçalo Ramos, melhor marcador do campeonato com 12 golos, à frente de Fran Navarro (Gil Vicente) e de Mehdi Taremi, o goleador do FC Porto com mais golos (19) em termos absolutos.

Foto

Conceição tenta consolidar estatuto de dragão

O treinador do FC Porto está algo distante dos números obtidos na época passada. Exactamente a oito pontos dos 47 somados na primeira volta de 2021-22... algo difícil de digerir por alguém como Sérgio Conceição. O actual terceiro lugar, a cinco pontos do líder Benfica e a um do Sp. Braga, é o reflexo de uma campanha “errante” para os níveis de exigência do técnico portista. Caminhada marcada por duas derrotas e três empates que Conceição vai compensando com a carreira internacional, onde conduziu a equipa à fase a eliminar, ao contrário do sucedido há um ano. Sérgio Conceição tem vindo, também, a consolidar o estatuto de “dragão”, ao superar marcas de nomes como Pedroto e Artur Jorge, continuando em todas as frentes e com possibilidades de tornar-se no treinador do clube com mais troféus conquistados. E, apesar de o posicionamento na Liga a meio da prova não ser o desejado, Sérgio Conceição tem consciência de que esta análise está condicionada por uma expulsão no clássico ganho pelo Benfica, no Dragão, onde o FC Porto esperava assumir a liderança que colocaria a primeira volta sob uma perspectiva bem diferente. E essa é a principal lição a extrair para o que falta desta Liga em que os “azuis e brancos” vão gerindo um sentimento de realização incompleta em busca do bicampeonato.

Foto

Filipe Martins constrói alicerce para nova ronda

A ponta final da primeira volta ameaça beliscar a imagem cintilante construída pelo Casa Pia de Filipe Martins neste regresso histórico aos grandes palcos. Ainda assim, insuficiente para varrer os méritos do técnico de 40 anos, vencedor do Campeonato de Portugal de 2016-17 (no Real SC), cujo saldo é altamente positivo para um dos (em tese) principais candidatos à despromoção: oito triunfos, três empates e seis derrotas, a primeira (0-1) frente ao Benfica, em oito rondas. Já 2023, que começou com um nulo na recepção ao FC Porto, trouxe dois desaires seguidos, como sucedeu à 9.ª e 10.ª rondas. Mas Filipe Martins, que está perto de levar a equipa à meia-final da Taça de Portugal, é um dos nomes da primeira metade da Liga. Ele que sente a aproximação do Arouca de Armando Evangelista, equipa que arrisca chegar à final da Taça da Liga caso, esta noite, em Leiria, supere o detentor do troféu, o Sporting.

Foto

Sp. Braga a mostrar-se com Vitinha a carregar

A presença do Sp. Braga numa posição de assalto ao primeiro lugar do campeonato há muito que não constitui uma verdadeira novidade. O emblema minhoto apostou num homem com ADN da casa para dirigir a equipa e Artur Jorge fez sete jornadas à campeão, período apenas “manchado” pelo empate (3-3) a abrir com o... Sporting. Os elevados índices de concretização e o arranque da campanha paralela na Liga Europa prometiam uma trajectória a todos os títulos notável. E o balanço é claro: vice-liderança com mais 11 pontos do que em igual período de 2021-22, números apenas superados pelos do Benfica. O Sp. Braga pode, inclusive, orgulhar-se de ter sido a única equipa a bater — e por números concludentes (3-0) — o Benfica de Roger Schmidt em jogos oficiais (e em todas as competições). A fase mais ingrata surgiu na recepção ao Desp. Chaves, depois de pesada derrota no Dragão. Uma equipa construída à volta de nomes como o de Ricardo Horta, cuja saída para a Luz esteve iminente, o que, juntamente com algumas baixas, poderá ter condicionado uma equipa que sublimou Vitinha. O jovem avançado leva 13 golos (melhor marcador da equipa) em todas as competições, sete dos quais na Liga (menos um do que Ricardo Horta, mais um do que Banza e mais do dobro de Abel Ruiz). Vitinha que, depois do golo que ajudou a eliminar o rival V. Guimarães na Taça de Portugal, se mostrou ao novo seleccionador nacional, Roberto Martínez, no mais recente triunfo sobre o Boavista.

Foto

Trincão ainda à procura do tempo perdido

Com um terço dos minutos e dos golos de Francisco Trincão, o defesa neerlandês Jeremiah St. Juste encaixa, na perfeição, numa categoria de reforços cujas referências elevam as expectativas dos adeptos a um patamar de exigência muito acima do alcançado. Neste capítulo, o extremo português tem sido apontado como uma das desilusões numa temporada em que o Sporting tem andado muito distante do nível a que se exibiu nas duas temporadas anteriores. Francisco Trincão, sete vezes internacional pela selecção A, tarda em recuperar os índices pré-pandemia que o levaram a assinar pelo Barcelona, que na segunda época o cedeu ao Wolverhampton e agora aos “leões”, com um rendimento francamente intermitente.

Foto

Paços enfrenta futuro em posição terrível

Meia volta desastrosa a todos os níveis, com o futuro próximo comprometido. César Peixoto regressou no início do ano para cumprir o contrato interrompido depois da “chicotada” que o afastou do comando técnico em meados de Outubro, ao décimo “assalto”... sem qualquer vitória e apenas com dois pontos. Precisamente metade dos averbados nos dois primeiros compromissos de 2023, depois de José Mota ter tentado, sem sucesso (seis derrotas em seis jogos), a sorte no regresso à Mata Real. Os “castores” viraram a Liga com um triunfo, afundados na tabela, a oito pontos do lugar de play-off de despromoção. Um cenário terrível. Com mais do dobro dos pontos à 17.ª jornada da época passada, Moreirense e Tondela caíram para a segunda Liga no fecho da temporada.

Foto

Moreno arrisca posição à porta da Europa

Um sétimo lugar, a três pontos da zona europeia, com meia maratona percorrida oferece duas leituras: para a ambição e pergaminhos vitorianos será sempre curto; para um observador desapaixonado, há óbvias atenuantes. Desde logo as limitações financeiras supridas, em parte, pelo voluntarismo de gente como o jovem treinador promovido da equipa B que teve prova de fogo na Conference League e dois períodos complicados, com três desaires consecutivos. O Mundial trouxe o declínio, acentuado por dois meses duros, com três derrotas nos últimos quatro jogos, a mais recente com o FC Porto. Moreno não quebra, mas precisa de arrepiar caminho para não saltar do trilho europeu.

Sugerir correcção
Comentar