A 37ª pergunta para o questionário do Governo

Um ministro com uma saúde oral impecável estará menos sujeito a constrangedores episódios de irascibilidade nas trincheiras dos debates parlamentares e das conferências de imprensa.

Abalado por consecutivos casos de falta credibilidade e idoneidade política, o Governo viu-se obrigado a reagir apressadamente para tentar atenuar os danos reputacionais e a crise política, aprovando um questionário prévio à integração de novos membros no Governo. Consta de 36 perguntas, nas quais se procura apurar a seriedade de César e também do respetivo agregado familiar, e espanta, desde logo, que este escrutínio não fosse já realizado aos candidatos a ministros e secretários de Estado.

Sendo de saudar a capacidade do Governo para aprender com os lapsos e com os erros, creio que o mecanismo podia ser ainda mais ambicioso. Não me parece descabida, por exemplo, a inclusão de uma 37.ª pergunta no referido questionário, robustecendo ainda mais o processo de seleção dos futuros governantes e evitando outros percalços do passado, tendo em conta, nomeadamente, que o primeiro-ministro já teve de cancelar a sua agenda política por força de uma trivial dor de dentes.

À imagem daquilo que sucede com a progressão na hierarquia das Forças Armadas Portuguesas, onde as promoções estão condicionadas à garantia de uma boa saúde oral, os futuros ministros (e respetivos ajudantes) deveriam também responder a uma pergunta que o afiançasse, assim evitando aborrecimentos posteriores. Atrevo-me a sugeri-lo, porém, não por simples pilhéria, mas porque se sabe que as doenças da boca aumentam significativamente o absentismo laboral e estão associadas a outras maleitas, nomeadamente do foro cardiovascular. Por outro lado, a saúde oral está normalmente associada a indivíduos mais disciplinados, mais produtivos e com e maior autoestima.

Se não nos custa imaginar as consequências de uma dor de dentes no desempenho (bélico ou pacificador) de um militar, também parece óbvio que um ministro com uma saúde oral impecável estará menos sujeito a constrangedores episódios de irascibilidade nas trincheiras dos debates parlamentares e das conferências de imprensa.

Acresce que a 37.ª pergunta não garantiria apenas uma escolha ainda mais criteriosa e exigente, assegurando que a condição oral do candidato a governante não o limitará durante o exercício da função executiva. Condicionando as futuras escolhas a este requisito clínico, todos aqueles que ambicionem, um dia, prestar abnegado serviço público à nação terão de passar a consultar regularmente o médico dentista, pelo que, creio, o Governo não deixará, de uma vez por todas, de cuidar que a saúde oral passe a ser um direito efetivo de todos os portugueses, honrando a palavra dada e cumprindo as promessas que fez.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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