Iraque: Turista acusado de tráfico de antiguidades condenado a 15 anos de prisão

Britânico vai recorrer da sentença, que ilibou outro turista, alemão, do crime. Detidos no aeroporto com fragmentos de antiguidades nas malas, o caso chamou a atenção mundial num momento em que o Iraque tenta revitalizar o turismo e combater tráfico de antiguidades.

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Jim Fitton, à saída do tribunal em Bagdad THAIER AL-SUDANI/Reuters

O turista britânico acusado de tráfico de antiguidades no Iraque foi condenado a 15 anos de prisão na segunda-feira por um tribunal de Bagdad, mas vai recorrer, revela esta terça-feira o jornal britânico The Guardian, que descreve como a defesa e a família do homem de 66 anos ficaram “estarrecidos” com o veredicto.

O caso começou com a detenção, em Março, de dois turistas europeus, um britânico e um alemão, no aeroporto da capital iraquiana por suspeitas de tráfico de antiguidades. Nas bagagens dos dois homens, que regressavam a suas casas depois de participar numa viagem turística ao património arqueológico do país, foram encontrados “artefactos”, segundo as autoridades citadas pela Al Jazeera​; o New York Times descreve-os como “cacos de cerâmica”. Ambos dizem que não conheciam o valor dos objectos e que não tinham conhecimento de que era proibido levar pedaços do género do Iraque.

Segunda-feira, o psicólogo alemão Volker Waldmann ficou ilibado e sairá em liberdade depois de o tribunal ter concluído que não tinha intenções criminosas — a sua defesa, escreve a Al Jazeera, diz que ele apenas transportava para Fitton alguns dos 12 pedaços de cerâmica encontrados. No caso de Jim Fitton, de 66 anos e geólogo, foi aplicada uma lei da era Saddam, segundo o Guardian, que condena pessoas que roubem artefactos ou antiguidades a sete e 15 anos de prisão.

O Guardian cita familiares do britânico que indicam que a sua expectativa era de que este fosse condenado, mas com pena suspensa de curta duração. O seu advogado disse que vai recorrer, argumentando que “a decisão não aplicou [correctamente] a lei” lamentando “a severidade do castigo”. Thair Soud disse ainda, citado pelo New York Times, que “o local de onde foram levados os pequenos pedaços de cerâmica e pedras era aberto, não havia guardas e ele levou alguns como lembrança”. Fitton não escondeu as peças, embrulhando-as em papel de cozinha na sua mala.

"Vestígios valiosos"

O caso dos dois britânicos chamou a atenção internacional sobretudo porque a pilhagem e o tráfico de antiguidades são um problema antigo no Iraque e cujo combate se tornou num estandarte do actual Governo, mas também pela disparidade entre a aplicação das leis a estes dois estrangeiros por oposição ao pouco que é sabido sobre punições a iraquianos pelos mesmos alegados delitos, contextualiza o New York Times. Por outro lado, acrescenta a Al Jazeera, o caso dos turistas presos por tráfico de antiguidades vem numa altura em que o Iraque está a tentar revitalizar o seu sector do turismo.

O grupo de turistas foi até Eridu, no sul do país, e foi ali que foram recolhidos os pedaços que agora estão no centro do caso. A Al Jazeera indica que uma investigação técnica do governo de Bagdad concluiu que os objectos têm mais de 200 anos. Em Maio, a imprensa citava um comunicado do comité de especialistas que analisou os artefactos e dizia que entre eles constavam tabuletas com escrita cuneiforme, esculturas, fragmentos de cerâmica e outros “vestígios valiosos” originários da Suméria e da Babilónia, antigas civilizações da Mesopotâmia. Entre todas estas disparidades públicas sobre o que constava das bagagens dos dois turistas, o advogado de Jim Fitton, Thair Soud, afirma que se os objectos “tivessem sequer o valor de um dinar iraquiano, não se conseguiria encontrar nem um porque todos teriam sido apanhados e vendidos”.

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