Demos conta há já alguns dias de uma corrente em prol do oceano que juntou, um pouco por todo o país, largas centenas de alunos e professores perto do mar e aí deram todos as mãos. Tínhamos pedido que nos enviassem fotografias desta Corrente pelo Oceano e elas foram-nos chegando desde esse dia (19 de Maio) – e continuam ainda a chegar –, mostrando abraços simbólicos ao mar, alguns bem longos, que (nos) impressionam. Vale muito a pena vê-las.

Com estas correntes humanas – organizadas pelo programa educativo Escola Azul, lançado pelo Ministério do Mar em 2018 para promover a literacia do oceano e que reúne agora mais de 200 agrupamentos e escolas do país – quis chamar-se a atenção para a importância vital do oceano, para o que lhe estamos a fazer e como o podemos proteger. Uma ideia que é condensada numa frase que nos foi dita por uma professora do ensino pré-escolar, Cândida Pereira, do Agrupamento de Escolas de Valadares (concelho de Vila Nova de Gaia): “O oceano é a origem da vida, não pode ser o depósito de lixo; há a necessidade de o preservar e de cuidar dele.” Também este argumento em defesa do oceano foi proferido por Pedro Delgado, da Escola Básica Integrada com Jardim de Infância da Quinta do Conde (concelho de Sesimbra): “Quanto menos olharmos os oceanos como depósito de lixo, maior é a esperança de um mundo de vida.”

Se repararmos no que publicámos desde a última newsletter do Azul vemos que, coincidentemente, outras correntes em nome do planeta têm sido notícia por estes dias, desde logo uma petição lançada pela ONG austríaca AllRise que já angariou mais de milhão de assinaturas em todo o mundo para que o Tribunal Penal Internacional (TPI) abra uma investigação formal a alegados crimes ambientais cometidos pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ligados ao aumento da desflorestação da Amazónia. A petição chama-se “O planeta contra Bolsonaro” e os seus autores já tinham apresentado no TPI, no ano passado, quatro queixas contra o Presidente do Brasil. Sem qualquer resposta até agora. Por isso, a petição, que já criou esta corrente com mais de um milhão de elos, interpela o tribunal a abrir uma investigação às queixas apresentadas, “uma vez que todas mostravam provas meticulosas sobre a urgência extrema e o impacto global da destruição ambiental e das violações de direitos humanos cometidas por Bolsonaro e pela sua Administração”.

Também Vanuatu, uma nação insular que, para lá das suas águas azul-esverdeadas, sente a ameaça de ficar submersa pela subida do nível do mar, está a socorrer-se da força de um apoio em cadeia. Bate-se por leis que protejam o país da crise climática e, para tal, quer que o Tribunal Internacional de Justiça (em Haia) elabore um parecer sobre leis que possam proteger países particularmente susceptíveis às alterações do clima, ao mesmo tempo que já conseguiu o apoio de 1500 organizações da sociedade civil de mais de 130 países, juntas numa aliança. Ou, por outras palavras, numa corrente pelo planeta.

Na luta por uma Terra livre da poluição por plásticos, destacamos ainda a batalha de 20 organizações não-governamentais (entre as quais a portuguesa Sciaena), que colaboraram numa análise às práticas de 130 retalhistas em 13 países europeus (incluindo Portugal). O resultado é que os supermercados europeus dizem que querem combater o plástico, mas depois estão a fazer muito pouco para abdicar das embalagens de plástico, por mais que, em público, até digam que querem fazer parte da solução. Portanto, por um lado temos as ONG a formar uma corrente e, por outro, os supermercados que ainda não entraram verdadeiramente na corrente pelo planeta.

Se estes exemplos de defesa da nossa casa comum estão à vista de todos, outros podem ser mais discretos vindos de cada um de nós. E se cada um de nós fizesse a sua quota-parte pelo planeta? E se cada um de nós procurasse, num esforço muito consciente, incorporar nas suas práticas quotidianas gestos de cuidado com planeta, desde evitar o desperdício alimentar até contribuir para a reciclagem ou poupar energia e água? Estas acções podem contribuir, como um todo, para a fazer a diferença, juntando-se às decisões políticas necessárias dos países, porque, como alertou esta semana John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para as questões do clima, o planeta já não pode esperar mais.

“Esta batalha tem de ser combatida agora”, disse, no Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça. “Não devemos deixar que se crie uma narrativa falsa de que o que está a acontecer na Ucrânia altera a necessidade de seguirmos em frente para lidar com a crise climática, disse ainda, resumindo: “Precisamos de nos mexer, precisamos de nos apressar, precisamos de fazer mais.” Vários sinais de urgência climática e de que o tempo se esgota para evitar consequências maiores encontram-se aqui, aqui, aqui ou ainda aqui.

Começámos com os sinais de esperança vindos dos mais jovens em relação ao mar e é aos sinais de esperança, e ao oceano, que regressamos agora ao realçar ainda a história da bióloga portuguesa Estrela Matilde, directora de uma ONG africana que está a tentar salvar as tartarugas marinhas da ilha do Príncipe. À sua maneira, o Azul pode ser um dos elos destas várias correntes, ao noticiar o que se passa com o planeta, e todos os que quiserem podem ajudar a amplificar o alcance dos nossos trabalhos jornalísticos, de acesso aberto. Até daqui a duas semanas.