Bruno Paixão, o homem que já fez de tudo na arbitragem

O setubalense, de 47 anos, tem estado na berlinda, por alegada prática de corrupção num processo que envolve o Benfica. Como árbitro, teve de lidar com um veto do Sporting, com acusações do FC Porto e com disputas legais com o próprio Conselho de Arbitragem.

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Bruno Paixão num jogo da I Liga LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Bruno Paixão está, segundo a CNN Portugal, envolvido num caso de alegada prática de corrupção que também coloca o Benfica ao barulho. De quem se trata? É difícil definir o homem que está na berlinda do desporto nacional. Ex-árbitro, ex-árbitro FIFA, ex-videoárbitro (VAR) ou ex-observador são formas possíveis de apresentar Bruno Paixão, alguém que já fez um pouco de tudo no mundo da arbitragem.

Depois do percurso desde os distritais até aos campeonatos nacionais, o setubalense foi árbitro da primeira categoria durante 19 anos, entre 1999 e 2018. Foram mais de 230 jogos e, nesse percurso, viveu, como boa parte dos juízes, os efeitos do ambiente do futebol português.

Chegou a ser vetado por Sporting e FC Porto, em 2011, fase em que os dois clubes apontavam ligações de Paixão ao Benfica – nuvem que volta, em 2022, a assombrar o setubalense, agora com 47 anos.

No caso dos “leões”, Paixão esteve mesmo quatro anos sem arbitrar o clube lisboeta, poucos meses antes de o juiz perder as insígnias FIFA, que tinha desde 2004. Na altura, em 2012, Bruno Paixão chegou mesmo a ir para os tribunais, contestando a classificação nessa temporada – que, conjugada com o mau desempenho na anterior, significou a saída do quadro de árbitros internacionais.

À data, o árbitro setubalense queixava-se da alteração da nota que lhe foi atribuída no jogo Gil Vicente-Sporting, partida que tinha justificado precisamente o veto do clube “leonino”, descontente com o desempenho de Paixão em Barcelos.

“É muito triste preparar um jogo durante a semana e chegar ao final de semana e sermos arbitrados por um árbitro incompetente, que não devia estar no futebol nacional e não devia arbitrar seja um jogo do Sporting ou outro qualquer. É um indivíduo que devia ser irradiado do futebol português”, disse Godinho Lopes, presidente do Sporting, visão que o FC Porto também corroborou por essa altura, acusando-o até de ligações ao Benfica.

Mesmo sem as honras de árbitro internacional, o juiz continuou na primeira categoria até 2018/19, quando deixou o relvado e começou a “arbitrar” numa sala, como VAR. Foi, depois, incluído no quadro de observadores dos campeonatos nacionais (avaliava árbitros em jogos do Campeonato de Portugal e dos escalões de formação), função que desempenhou até ao final da temporada 2020/21.

Aí, “pendurou o apito” com um comunicado em que assume ter falhado muitas vezes, mas nunca de forma premeditada. “Foram 33 anos de carreira, privei-me desde a juventude de muitas coisas normais da vida de qualquer ser humano, lutei contra a minha natureza fisiológica com total dedicação e empenhamento, dei tudo de mim em busca da excelência (…) aguentei sobre mim próprio, no meu silêncio, as críticas, as difamações, as provocações. Acima de tudo, quis sempre ser o mais justo possível, falhei muitas vezes, mas nunca o fiz de forma premeditada (…) nunca tive uma imprensa amiga. No entanto, estou grato à arbitragem e ao futebol por tudo o que me deu”, pode ler-se num texto publicado no Facebook.

Actualmente, Bruno Paixão colaborava com o Casa Pia, da II Liga, depois de ter feito também alguns trabalhos como consultor imobiliário.

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