Linhas vermelhas: mortalidade aumenta quase 50%; incidência dispara nas crianças com menos de dez anos

O facto da variante Ómicron estar a causar casos menos graves de doença, não trava a pressão nos serviços de saúde e na sociedade, alertam as autoridades de saúde. Actividade epidémica continua “intensidade muito elevada, com tendência crescente a nível nacional”, embora existam “sinais de estabilização na região de Lisboa e Vale do Tejo”.

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O grupo etário dos indivíduos com menos de 10 anos apresenta o maior aumento da incidência Anna Costa

A mortalidade por covid-19 aumentou 47% na última semana: atingiu os 37,6 óbitos por cada milhão de habitantes, a 14 dias, valor superior ao limiar definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) — 20,0 óbitos em 14 dias por cada milhão de habitantes.

A informação consta no mais recente relatório semanal de monitorização das “linhas vermelhas” elaborado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que dá conta de que a análise dos diferentes indicadores revela uma actividade epidémica de “intensidade muito elevada, com tendência crescente a nível nacional”, embora existam “sinais de estabilização na região de Lisboa e Vale do Tejo”. A pressão nos serviços de saúde e o impacto na mortalidade são elevados.

O facto da variante Ómicron estar a causar casos menos graves de doença não trava a pressão. “Mesmo tendo em consideração a provável menor gravidade da doença provocada pela variante Ómicron, é expectável impacto na sociedade em termos de absentismo escolar e laboral”, lê-se no relatório.

Esta semana, todos os grupos etários ultrapassaram o limiar de 960 casos por 100 mil habitantes: e se o grupo entre os 20 e os 29 anos é o que tem mais incidência de casos, com 7288, foi nas crianças com menos de 10 anos que se registou o maior aumento, em relação à semana anterior (mais 117%).

O aumento dos casos de infecção em pessoas acima dos 65 anos é preocupante. “O grupo etário com 65 ou mais anos apresentou uma incidência cumulativa a 14 dias de 1 764 casos por 100 000 habitantes, o que corresponde a uma gravidade classificada como muito elevada”, salientam as autoridades de saúde.

​Um ponto positivo é que há significativamente menos casos a serem notificados com atraso. Na última semana, proporção de casos de infecção por SARS-CoV-2 notificados com atraso em Portugal foi de 7,5% (na semana passada foi de 15,6%), abaixo do limiar de 10%.

Número em UCI mantém-se estável

Apesar da pressão no serviços de saúde, o número de doentes com covid-19 internados em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) no continente continua a apresentar “uma tendência estável”. A 19 de Janeiro de 2022, havia 152 doentes internados em Portugal Continental, menos 10 do que na semana passada. Este valor corresponde a 60% do limiar definido como crítico de 255 camas ocupadas.

O grupo etário com maior número de casos de covid-19 internados em UCI é o dos 60 aos 79 anos.

Ómicron e a linhagem BA.2

A Ómicron (linhagem BA.1) continua a ser a variante dominante em Portugal. Desde 9 de Janeiro de 2022, tem-se verificado um decréscimo da proporção de amostras positivas com “falha” na detecção do gene S (indicador de caso suspeito da linhagem BA.1 variante Ómicron). Isto pode estar relacionado com a entrada em circulação da linhagem BA.2 que também está a ser designada como Ómicron pela OMS.

Vacina reduz risco de morte

​O risco de infecção é menor para pessoas com mais de 80 anos. “Apesar da incidência cumulativa a 14 dias no grupo etário dos indivíduos com 80 ou mais anos ter apresentado uma tendência crescente, o valor de 1510 casos por 100 mil habitante reflecte um risco de infecção mais de três vezes inferior ao apresentado pela população em geral”, esclarecem as autoridades de saúde.

A vacina pode ser um dos factores. Segundo o relatório da DGS e do INSA, as pessoas com um esquema vacinal completo apresentam um risco de morte três a seis vezes menor do que as pessoas não vacinadas, entre o total de pessoas infectadas em Dezembro. Na população com 80 e mais anos, a dose de reforço da vacina reduziu o risco de morte por covid-19 para quase seis vezes em relação a quem só tem o esquema vacinal primário completo.

Mais testes positivos

Mais de 15% dos testes realizados para despiste da covid-19 em Portugal são positivos, um valor onze pontos percentuais acima do limiar recomendado (4%) e que aumentou face à semana anterior (o valor passou de 14% para 15,5%). “Importa interpretar esta informação tendo em conta as recomendações de testagem em vigor”, recordam os autores do relatório. Desde 9 de Janeiro que decorre uma campanha de testagem nas escolas, e a entrada em bares e discotecas só pode ser feita mediante a apresentação de teste negativo.

“Observou-se um aumento do número de testes, para detecção de SARS-CoV-2, em especial testes rápidos de antigénio, realizados nos últimos sete dias”, confirmam as autoridades de saúde.

​R(t) continua a diminuir

O índice de transmissibilidade — R(t) — a nível nacional situa-se nos 1,10 Este índice corresponde ao número de pessoas que são, em teoria, contagiadas por alguém com a infecção activa. Apesar de o valor desta semana ser inferior ao da semana passada, continua a ser superior a 1, o que indica uma tendência crescente da incidência de infecções por SARS-Cov-2 a nível nacional.

Em comparação com os valores apresentados no último relatório, o R(t) diminuiu em todas as regiões. A região Norte continua a apresentar o valor mais elevado, mas desceu de 1,23 para 1,14.

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