O Europeu da confirmação para o andebol português

Portugal inicia nesta sexta-feira em Budapeste a sua participação no Euro 2022, depois do brilhante sexto lugar em 2020. A Islândia será o primeiro adversário.

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Portugal joga com a Islândia esta sexta-feira às 19h30 Reuters/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT

Os últimos três anos foram de um renascimento fulgurante do andebol português. De um longo estado de letargia evoluiu para uma enorme vitalidade. Em 2020, falava-se do regresso da selecção portuguesa às fases finais das grandes competições (Euro 2020), após 14 anos de ausência. Em 2022 discutem-se as barreiras que o andebol português pode voltar a quebrar neste Euro de organização partilhada por Hungria e Eslováquia. Nesta sexta-feira, a selecção orientada por Paulo Jorge Pereira inicia, em Budapeste, frente à Islândia (19h30, RTP2), a sua campanha para tentar igualar ou melhorar o sexto lugar alcançado em 2020.

Em três anos, Portugal chegou à fase final de dois Europeus, de um Mundial, e conseguiu uma inédita presença no torneio olímpico de andebol nos Jogos de Tóquio, no último Verão – cuja qualificação é mais difícil do que qualquer Europeu ou Mundial. No último Campeonato da Europa, teve a sua melhor participação de sempre e, neste período, ganhou a algumas das melhores selecções do andebol mundial – França (três vezes), Suécia, Alemanha, Espanha ou Islândia. Isto só quer dizer que Portugal também já é uma selecção de topo e que toda a concorrência neste Europeu está avisada do que os “Heróis do Mar” podem fazer.

O que mudou para que houvesse este grande salto em frente no andebol português? Qualidade nunca faltou, diz ao PÚBLICO o antigo internacional Ricardo Andorinho. Foi uma questão de liderança. “São dois aspectos fundamentais. Houve uma mudança de estratégia e liderança clara, com a entrada do Paulo Pereira. Com ele, houve alguns factores intangíveis, como a motivação e o compromisso, de criar uma cultura de equipa, mais de acordo com o potencial e menos com coisas que tinham a ver com o passado”, assinala um dos mais internacionais de sempre da selecção portuguesa.

Esse regresso às grandes competições aconteceu em Janeiro de 2020, num Europeu em que Portugal chegou ao sexto lugar, conseguindo uma vaga no torneio de apuramento para os Jogos Olímpicos. Mas o mundo é um lugar diferente em 2022, ainda a lidar com uma pandemia que condiciona tudo. Condicionou em muito a preparação portuguesa para o torneio – estava prevista a participação num torneio na Suíça, que foi cancelado – e muitas lesões em elementos experientes (André Gomes, Luís Frade e Pedro Portela) obrigaram o seleccionador a algumas mudanças no lote habitual dos eleitos.

“[A preparação] foi muito difícil, mas também acho que nós temos uma certa tendência para sobreviver ao caos. Portanto, somos especialistas nisso e espero que, mais uma vez, consigamos sobreviver a uma situação crítica que tivemos”, analisou Paulo Pereira, que chamou alguns jovens com menos presença na selecção para este Europeu, como os sportinguistas Martim Costa e Salvador Salvador, Daniel Vieira (Avanca) ou o portista Miguel Alves. Abdicou ainda do experiente Humberto Gomes para a baliza, apostando em definitivo em Gaspar e Capdeville.

Grupo difícil

O primeiro objectivo da selecção portuguesa neste Europeu é ultrapassar a fase preliminar e não se pode dizer que seja um grupo propriamente acessível, embora seja composto por selecções que Portugal já derrotou num passado recente. A Islândia é o primeiro oponente, já nesta sexta-feira, uma selecção com currículo no andebol mundial (vice-campeã olímpica em 2008 e medalha de bronze no Europeu em 2010), mas à qual Portugal já conseguiu ganhar em dois dos quatro últimos confrontos.

Depois dos nórdicos, Portugal terá pela frente, no domingo, outra selecção complicada, a Hungria. Não tendo o currículo recheado (vice-campeã mundial em 1986), está mais do que habituada às fases finais (é o seu décimo Europeu consecutivo) e joga em casa, para além de ter no banco Chema Rodríguez, adjunto dos húngaros com conhecimento directo do andebol português por ser treinador do Benfica – a equipa, porém, foi derrotada pela selecção portuguesa no Euro 2020. A fechar, Portugal defronta na terça-feira os Países Baixos, que será o adversário mais acessível desta fase preliminar.

“Espero que a selecção consiga ultrapassar todas estas questões da covid. Não tem sido fácil para ninguém. Acho que todos os portugueses estão confiantes que esta selecção possa repetir os bons resultados dos últimos anos”, assinala Ricardo Andorinho, para quem é “preciso respeito por todos os adversários”. “Mas temos de confiar no trabalho desta equipa. Há aqui um trabalho muito importante nos últimos anos que é preciso valorizar no andebol português e acreditamos todos que o sonho é para continuar a concretizar.”

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