Get Back, disponível na Disney +, é uma longa, exaustiva e fascinante viagem por um mês na vida dos Beatles. E é mais que isso: é vê-los por trás da barricada da Beatlemania, é uma pungente ilustração de um processo criativo.

É um documentário, em três partes, que o realizador Peter Jackson criou a partir do material registado durante a rodagem de Let it Be. À época Let it Be (Michael Lindsay-Hogg, 1970) foi visto como deprimente cronologia do fim dos Beatles, uma espécie de filme maldito que atravessou todos estes anos como retrato lúgubre, rancoroso dos últimos. Tinha uma hora e vinte de duração. Mas Peter Jackson, fã, conhecedor e praticante da Beatlemania, vira muito para além disso. Passou por todo o material registado na rodagem, 60 horas de filme, 150 horas de gravação áudio, e tudo visto e ouvido, pôde dizer a Paul McCartney: “É incrivelmente divertido. É incrivelmente animado. Mostra-vos a divertirem-se a sério.”

Esse material ressurge para mostrar que a história, afinal, era outra. Mário Lopes, fã, conhecedor e praticante da Beatlemania, faz também o seu filme aqui...

 

Nascido antes da pandemia, Esperança, o novo disco de Mallu Magalhães, teve de esperar por um tempo em que as suas canções assentes nas pequenas felicidades do dia-a-dia pudessem voltar a fazer sentido (vamos ver se é mesmo tempo para elas ou se o novo coronavírus estraga a festa; acreditemos... hoje o álbum chega ao Campo Pequeno, em Lisboa).

 

 

 

Alberto Manguel gosta de livros e de cozinhar. Juntou os dois no Livro de Receitas dos Lugares Imaginários. Alexandra Prado Coelho conversou com ele sobre as infinitas possibilidades de se ler uma biblioteca — a sua, a abrir em Lisboa em 2023, chamar-se-á Espaço Atlântida e será “de navegação livre”. Para já, em Fevereiro, Margaret Atwood virá a Portugal.

"Em D. Quixote, n’Os Maias, em Dickens, em Flaubert, todos comem. Só na má literatura é que as personagens não comem”

 

Contaremos com estes filmes, certamente, para as nossas escolhas do ano:

Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar: "Um portento de melodrama classicista depurado, simultaneamente apaixonado e descarnado", segundo Jorge Mourinha.

Eu escolho As Irmãs Malacuso, de Emma Dante, alguém que tem vindo a Portugal mostrar o seu trabalho como encenadora e que agora revela a sua segunda longa-metragem. Uma casa e as cinco irmãs que a ela regressam ao longo de várias décadas das suas vidas. O que é o cinema da siciliana Emma? Ela resiste a responder na entrevista que nos deu: só fez dois filmes, diz. Imaginemo-lo então...a partir desta reinvenção de um espaço, uma casa, que não é apenas cenário, matéria decorativa, é empoderamento de um olhar narrativo.

 

Está já disponível na Netflix o novo filme de Jane Campion. Há semanas, a neo-zelandesa foi capa do nosso suplemento devido à homenagem feita no LEFFEST. Entrevistámo-la, aliás. Falei aqui, também, de um revival Jane Campion: homenagens por todo o lado, manifestações individuais de reconhecimento pela obra por parte de recém-chegadas aos grandes prémios em festivais (por exemplo, Julia Ducournau, Palma de Ouro em Cannes por Titane ou Audrey Diwan, Leão de Ouro de Veneza por L'Évenement). O Poder do Cão, o filme que traz Campion de volta ao cinema, está aí então: uma perspectiva feminina sobre as formas de ser homem.

Benedict Cumberbatch interpreta um cowboy empedernido (sim, O Poder do Cão é um western), cujos mistérios se lhe colam à pele como uma máscara indecifrável, e justificam o seu carácter violento.

Essa violência e esses interditos também se experimentam com a leitura. Tomas Savage, o autor de O Poder do Cão, é um exemplo feliz de reabilitação após anos de esquecimento.

Publicado em 1967, o romance inscreve-se no melhor da literatura do Oeste americano, garante-nos Isabel Lucas: Thomas McGuane, Jim Harrison, Cormac McCarthy, Marilynne Robinson ou Annie Proulx, a autora de Brokeback Mountain. Que assinou o posfácio da edição que resgatou o livro de Savage em 2010 e que agora tem versão portuguesa (infelizmente, sem o prefácio)

 

Um pioneiro, um primitivo, um clássico. Mas igualmente um moderno. Já começou na Cinemateca, e prolonga-se por Janeiro 2022, a monumental retrospectiva da obra de Allan Dwan (1885-1981) - na foto, com Douglas Fairbanks na rodagem de A Modern Musketeer, 1917.