Portugal de serviços mínimos e exibição abaixo de zero

Empate em Dublin frente à República da Irlanda deixa a selecção portuguesa a um ponto da qualificação para o Mundial do Qatar.

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Ronaldo não escapou à má exibição colectiva da selecção portuguesa EPA/ESTELA SILVA

A selecção portuguesa ficou nesta quinta-feira a apenas um ponto de se qualificar para o Mundial de 2022, depois de um empate (0-0) em Dublin frente à República da Irlanda, em jogo a contar para o Grupo A da zona europeia de apuramento. Com este resulta, tudo o que a selecção de Fernando Santos precisa é de um empate no próximo domingo frente à Sérvia, na Luz, para garantir um lugar no torneio que se realiza no Qatar. Uma derrota frente aos balcânicos atira a selecção portuguesa para o play-off.

Já se sabia que este não era um jogo fundamental de se ganhar. Vitória, empate ou derrota era quase a mesma coisa para a selecção portuguesa, que nunca iria deixar de controlar o seu destino nesta qualificação para o Mundial. E essa aura de jogo dispensável parecia contagiar os jogadores portugueses que subiram ao relvado do Aviva Stadium. Contagiou, seguramente, Fernando Santos, que poupou quase todos os “amarelados” para o decisivo jogo com os sérvios no domingo. Era o seleccionador nacional a passar a mensagem de que o caminho para o Qatar não passava por aqui.

Havia uma dupla no meio-campo com conhecimento mútuo (Palhinha e Matheus) a dar respaldo a Bruno Fernandes e um trio no ataque que se pretendia móvel (André Silva, Cristiano Ronaldo e Gonçalo Guedes). No papel, gente mais do que competente para defrontar uma República da Irlanda já sem hipóteses de se qualificar num agrupamento em que se arrisca a ficar atrás do Luxemburgo – e com dois dos seus titulares a jogarem na terceira divisão do futebol inglês.

Dizer que a selecção portuguesa fez o seu pior jogo dos últimos anos será uma questão de opinião (pelo menos, não perdeu), mas não foi seguramente uma partida para o álbum de boas recordações. Percebia-se a ideia de Palhinha e Matheus juntos – dois jogadores que se conhecem da convivência no Sporting e que davam uma dimensão física suplementar ao jogo português. Mas a ideia de Fernando Santos não resultou. É verdade que Portugal teve o domínio da posse de bola, mas não teve o jogo controlado. Para além de que os irlandeses, a jogarem em casa, pareciam mais motivados para tirar alguma coisa deste jogo. Mais agressivos, mais rápidos a responder à perda da bola e com processos mais simples.

Durante a primeira parte, não houve nenhuma situação de golo clara, mas a Irlanda chegou mais vezes com perigo relativo à área portuguesa. Aos 26’, Rui Patrício teve uma defesa vistosa a um remate de Callum Robinson e, aos 44’, foi o extremo do West Bromwich Albion a fazer o cruzamento para o cruzamento perigoso de Ogbene, um dos jogadores desta selecção irlandesa que actua na League One. Isto era a Irlanda a dizer a Portugal para investir um bocadinho mais no jogo.

A segunda parte foi mais do mesmo. Aos 54’, uma escorregadela de Matheus Nunes na área portuguesa deixou a bola à mercê de Josh Cullen, que atirou para as mãos seguras de Patrício. Pouco depois, o seleccionador fazia as suas primeiras alterações, com as entradas de Rafael Leão e João Moutinho para os lugares de Gonçalo Guedes e Matheus. A intenção era ter alguém que soubesse pensar um bocadinho melhor o jogo ofensivo a partir do meio-campo (Moutinho) e alguém para correr e rematar (Leão), algo que Portugal ainda não tinha conseguido fazer.

Por incrível que pareça, só com mais de uma hora de jogo é que Portugal criou verdadeiramente perigo. Foi numa jogada de contra-ataque conduzida por André Silva na direita, o cruzamento saiu para a área, onde estava Cristiano Ronaldo para a finalização – o cabeceamento de CR7 saiu ao lado da baliza de Gavin Bazunu.

A Irlanda estava sempre com os seus níveis de concentração e energia no alto, ao contrário da selecção portuguesa, que nunca se libertou da noção de que este jogo não era para levar a sério. E nada simbolizou mais esta diferença de atitude do que os dois amarelos que Pepe viu em menos de dez minutos – o segundo, então, foi numa jogada aos 81’ sem qualquer perigo em que o central do FC Porto tinha o lance controlado e resolveu afastar o seu adversário com uma mão na cara.

A jogar com menos um, Fernando Santos sacrificou Leão para meter Fonte e o melhor que se pode dizer é que a selecção portuguesa levou o empate até ao fim, o mínimo exigível numa exibição bem abaixo do zero.

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