Xavi não tinha pressa, mas o Barcelona precisa dele

O antigo médio será o próximo treinador dos “blaugrana” para tentar fazer esquecer o desastre que foi Ronald Koeman. A transição será feita por Sergi Barjuán, técnico da equipa B.

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Xavi será o novo treinador do Barcelona Reuters/IBRAHEEM AL OMARI

Xavi Hernández iria ser treinador. Era inevitável. Tudo o que ele fez nos relvados encaminhava a sua vida nesse sentido. E, por ser blaugrana dos pés à cabeça, seria treinador do Barcelona. Mas ele não tinha pressa, como contava numa entrevista recente ao La Vanguardia. “Não tenho pressa nenhuma em ser treinador do Barcelona. O que vier, será bem-vindo”, era o que Xavi dizia em Maio passado, satisfeito e confortável a treinar o Al-Sadd no longínquo Qatar. Mas o Barcelona, numa crise desportiva e financeira asfixiante, quer Xavi em Camp Nou. Já.

Só falta mesmo ser oficial, mas é mais do que certo que Xavi, um dos melhores médios da história do futebol e um símbolo do Barça, será o próximo treinador da equipa catalã, depois do desastre que foi a era Ronald Koeman. Sergi Barjuán, antigo lateral do Dream Team de Cruyff e actual treinador da equipa B, fará a transição, assumindo o comando nos três próximos jogos do Barça (Alavés, Dínamo de Kiev e Celta de Vigo). Xavi deverá ocupar o lugar durante a primeira semana de Novembro.

Xavi, de 41 anos, é um treinador ainda em formação. Está no terceiro ano a orientar os destinos do Al-Sadd, clube onde terminara a carreira como jogador (e onde foi orientado pelo português Jesualdo Ferreira), e, como o próprio disse, ainda está a aprender. “Não tenho uma necessidade de ir treinar aqui ou ali. Sinto-me bem e estou a aprender, cometo erros, experimento coisas”, dizia na mesma entrevista ao La Vanguardia há seis meses.

A tranquilidade de Xavi está, no entanto, a chegar ao fim. E este Barça que ele vai encontrar está longe de ser o Barça que deixou para trás em 2015, ano em que ganhou tudo: liga espanhola, Taça do Rei, Liga dos Campeões e Mundial de clubes. O gigante catalão está a atravessar uma profunda crise financeira, com um défice superior a mil milhões de euros, e uma crise desportiva equivalente, como demonstra o nono lugar na liga espanhola e a vida muito difícil na Liga dos Campeões. Em 2015, Xavi tinha a companhia de Messi, Suárez, Neymar, Iniesta entre outros. Em 2021, restam do seu tempo Piqué, Alba e Busquets a tentar segurar as pontas numa equipa com muita juventude.

É difícil olhar para este casamento e não pensar no caminho que o Barcelona seguiu em 2008 quando entregou a equipa principal a Pep Guardiola, na altura o treinador da equipa B. O presidente era o mesmo, Joan Laporta, e era para substituir outro holandês, Frank Rijkaard, que tinha tido resultados bem melhores do que Koeman. Seguindo os princípios de Cruyff, Guardiola revolucionou o Barça e apresentou ao mundo o “tiki taka”, tendo Xavi como figura central.

Despedido no avião

Entra Xavi, que até era o treinador do candidato derrotado nas últimas eleições do Barça, sai Koeman, contratado pela anterior direcção liderada por Bartomeo. E não se pode dizer que tenha sido uma saída inesperada, olhando para os resultados que a equipa estava a ter. Ainda aguentou o desaire em Camp Nou com o Real Madrid, mas já não sobreviveu à derrota em Vallecas com o Rayo Vallecano. Segundo conta a imprensa espanhola, o holandês de 58 anos foi despedido na viagem de regresso a Barcelona. Laporta reuniu-se no avião com elementos da sua direcção, com Koeman por perto, e, antes de aterrarem na capital catalã, comunicou-lhe que tinha sido despedido.

Koeman já parecia ser um treinador a prazo desde a época passada, mas só não teria sido despedido porque o Barcelona não tinha dinheiro para lhe pagar a indemnização. Agora, Laporta terá de ir buscar a algum lado os 12 milhões de euros a que o holandês e respectiva equipa técnica terão direito, bem como os três milhões que irão pagar a Xavi e aos seus adjuntos e o milhão que o Al-Sadd, líder invicto do campeonato do Qatar, terá de receber por abdicar do seu treinador.

O balanço de época e meia como treinador do Barcelona não é nada lisonjeiro para Koeman. Ainda ganhou uma Supertaça espanhola a abrir a época passada, mas foi terceiro na liga e caiu com estrondo nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões perante o PSG. Esta época, em 13 jogos disputados, o Barça apenas ganhou cinco, com três empates e cinco derrotas, entre elas duas na Champions com Bayern e Benfica. Já deverá ser difícil para Xavi salvar o que quer que seja da época, mas o Barcelona espera que o efeito Guardiola se repita com o antigo dono da camisola 6. Que ele seja alguém que devolva a identidade a um Barcelona que, neste momento, não tem nenhuma.

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