A Cimeira do Clima que arranca no domingo será a quinta desde que, em Paris, os então líderes políticos apertaram as mãos num esforço colectivo de estabilizar o aquecimento global bem “abaixo dos dois graus Celsius”. 

Desde aí, os líderes mundiais estão a ficar sem tempo e vão aterrar ou desembarcar em Glasgow, na Escócia, com outro número na bagagem: em vez de desligar o aquecimento, a falta de ambição na redução de emissões de gases com efeito de estufa poderá levar a um aumento da temperatura média até 2,7 graus Celsius, no final deste século. 

Conseguir o tão desejado limite de 1,5 graus deverá, ainda assim, resultar num aumento de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, cheias, secas prolongadas ou tempestades, mas, segundo os cientistas, estes impactos não se comparariam com as proporções catastróficas que afectarão milhões de vidas caso os termómetros continuem a bater recordes.

Antes mesmo de activistas, presidentes de empresas, políticos e organizações não-governamentais chegarem ao evento, e sem os presidentes dos mega-poluentes Rússia, Brasil e China à volta da mesa, os Estados Unidos da América, as Nações Unidas e o presidente do Reino Unido já admitiram que a COP26 não deverá conseguir ultrapassar muitas das barreiras políticas para cumprir as aspirações do Acordo de Paris. Boris Johnson, conhecido pelo seu entusiasmo quase inabalável, disse esta semana que as negociações serão “extremamente complicadas”. 

Os apoios financeiros públicos e privados a países com mais dificuldade na adaptação a fenómenos extremos e na transição energética; a preservação das florestas, solos e pântanos; o corte nas emissões do metano, mais poluente do que o dióxido de carbono, bem como a eliminação progressiva do carvão, serão pontos quentes das negociações que querem trazer mais países e empresas para as metas de neutralidade carbónica.

É isto que vão discutir nas próximas duas semanas 20 mil delegados em representação de 196 países, num momento em que muitos ainda se debatem com os impactos da pandemia de covid-19 e a temperatura mundial está 1,1ºC acima do nível pré-industrial. 

Ainda que reconhecendo a tarefa sem precedentes que nos espera, desesperando com a ausência de importantes chefes de estado, e atirando as mãos à cabeça com a retórica vaga de outros, muitos activistas e cientistas têm alertado para a importância de não se cancelar a COP26 antes sequer de a conferência arrancar. Declarar um falhanço e perder toda a esperança é demasiado fácil, principalmente quando a responsabilidade exigida a quem elegemos para nos governar nunca foi tão alta. 

Todos os artigos de opinião, análises, vídeos e textos da enviada do PÚBLICO a Glasgow, a jornalista Patrícia Carvalho, estarão agregados numa página dedicada à COP26. Pode espreitá-la aqui.

Por cá, se vir um periquito-de-colar, avise a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). A organização agradece a contribuição para o censo nacional da espécie muito social que se reúne em dormitórios comunais que podem chegar a juntar centenas de aves. 

Voltamos na próxima quarta-feira, sempre com os Pés na Terra, de olhos em Glasgow (mas não só). As suas ideias, soluções e comentários são bem-vindas em renata.monteiro@publico.pt. Até lá, fica uma mão cheia de sugestões de leitura.

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