A frase em jeito de slogan poderia animar um dos cartazes da próxima greve climática, convocada para 22 de Outubro, mas é, com o laconismo sempre sério que um título impõe, um conselho da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na pesagem dos esforços necessários para a receita de um clima e um planeta sãos, há um factor que deveria ser inegociável e acaba muitas vezes a ser tratado como um ingrediente secreto na mão de chefs pouco ambiciosos: a saúde pública. A pensar nisto, a OMS divulgou esta semana uma receita com dez pontos para combater as alterações climáticas que tem a saúde humana — e prometo que esta é a última analogia culinária — como prato principal.

A mensagem influente para os líderes mundiais que vão encontrar-se na COP26, em Glasgow, é muito directa: se tiverem em conta a saúde dos vizinhos, eleitores, familiares, restantes seres humanos e futuras gerações, a mudança só poderá ser muito expressiva. O relatório fala, por exemplo, na poluição do ar provocada pela queima de combustíveis fósseis que causa a morte prematura de 13 pessoas por minuto.

A conferência das Nações Unidas é também uma boa oportunidade para os decisores políticos mostrarem que ouvem as preocupações dos profissionais de saúde que tanto enalteceram durante os últimos dois anos. É que se a pandemia de covid-19 atirou os sistemas de saúde mundiais para o limite do colapso, a crise climática pode ser “muito mais catastrófica e longa”.

Numa carta assinada por cerca de 300 organizações de saúde, os profissionais de saúde apelam a um investimento urgente, mas a pensar a longo prazo, e defendem que “as poupanças em saúde irão ultrapassar largamente os custos de se avançar” com as adaptações que os cientistas já mapearam. Escreve quem não tem tempo (nem mãos) para orçamentar a responsabilidade ética de salvar vidas: “Água e ar mais limpos, cadeias de alimentação mais saudáveis e seguras, um sector de saúde resiliente e baixo em carbono, transportes e comunidades mais verdes irão beneficiar todos, aqui e agora.”

Antes de ir embora, temos uma novidade. Para acompanhar a mitigação e os impactos da crise climática com a urgência exigida, também por leitoras e leitores do PÚBLICO, a newsletter Pés na Terra passará a chegar ao seu e-mail todas as semanas, à quarta-feira.

A decisão de diminuir o intervalo destas correspondências chega na mesma semana que descobrimos que 85% da população mundial já foi exposta às alterações climáticas. É um dos textos na secção Ambiente que tem mesmo de ler, esta semana.

Uma última nota ainda para as ilustrações de duas jovens artistas portuguesas que integram uma colecção visual sob licença aberta que acredita no impacto da “positividade” na luta por uma transição climática justa. Pode conhecê-las nesta fotogaleria

Voltamos então na próxima quarta-feira, sempre com os Pés na Terra. As suas ideias, soluções e comentários são bem-vindas em renata.monteiro@publico.pt. Até lá, fica uma mão cheia de sugestões de leitura.

1. Uma importante entrevista a Greta Thunberg, que diz ser “preciso uma pressão pública maciça” para resolver a crise climática
2. Reparar é mais caro do que comprar novo, mas isso vai acabar
3. Cidades portuguesas no topo de rankings com menor mortalidade quando têm espaços verdes
4. Como proteger os glaciares do degelo? Cobri-los com um lençol gigante
5. Governo prevê receita de 25 milhões em 2022 com taxas sobre viagens de avião e embalagens