Desinstalei o Instagram pela saúde dos meus dedos

Ter aplicações que nos roubam tempo e esforço mental é como estar na cidade, a ser estimulado ininterruptamente por carros, sirenes, vizinhos e pombos. Desinstalar aplicações é como ir dar um passeio no campo e perceber que há mais para viver, ar puro para respirar. E foi assim que desinstalei a minha kryptonite: o Instagram.

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Reuters/Dado Ruvic

“Já é uma da manhã outra vez, mas como?” Eu tinha a resposta, mas continuava a enganar-me a mim próprio sobre o quanto fiquei “agarrado” ao Instagram e, consequentemente, ao telemóvel. Fiquei com vício de mão, tal como muito se fala de alguns fumadores, mas neste caso tenho os pulmões óptimos. Já sobre a minha miopia, não posso dizer o mesmo.

Eu acredito que não estou sozinho e que falar abertamente sobre as figuras ridículas que fiz de telemóvel em punho possa ajudar a tirar um pouco mais os olhos dos ecrãs e, principalmente, do scroll infinito em que perdi horas de vida. E a palavra “perdi” nunca fez tanto sentido como aqui.

“Maldito Instagram que tanto adoro. Eras o meu beijinho de boa noite e também o de bom dia, eras mais presente do que uma luz de presença, o refúgio que me salvava dos perigos que não corria. Tinha tudo para ser um amor duradouro, mas hoje entrei em terapia de choque. Desinstalei a aplicação, desactivei a sessão. A partir de agora, sou fantasma em tua casa.” Se o Instagram fosse uma pessoa, era isto que dizia.

Recebia o relatório semanal sobre o bem-estar digital, mas esse “bem-estar” não estava nem perto. Estar quatro horas de olhos postos no ecrã continuava a parecer-me um desperdício de vida, mas continuei a procrastinar forte, tal como a minha geração faz tão bem. Nem todos, nem sempre, mas é um verbo que, sem querer, popularizámos. Tirei as notificações do e-mail, LinkedIn, Instagram e outras tantas que existem no telemóvel, excepto o WhatsApp, onde me controlo bem. Conclusão: ia ver o e-mail nove vezes por dia, como se estivesse à espera de uma carta de resgate de um familiar em perigo. Fiz tanto refresh que acabei com o dedo assado. Não literalmente, claro, mas se o ecrã do telemóvel fosse lixa, tinha o dedo todo lixado. Lixado com “f”, se é que me entendem.

Ter aplicações que nos roubam tempo e esforço mental é como estar na cidade, a ser estimulado ininterruptamente por carros, sirenes, vizinhos e pombos. Desinstalar aplicações é como ir dar um passeio no campo e perceber que há mais para viver, ar puro para respirar. E foi assim que desinstalei a minha kryptonite: o Instagram.

Não vou mentir. Já desbloqueei o telemóvel mais de dez vezes e fui automática e inconscientemente ao lugar que antes abria esta aplicação. É o tal vício de mão que está para os fumadores como vício de boca. Esta é a minha terapia de choque, é a forma mais millennial que encontrei para resolver o assunto e não podia estar mais contente com a decisão. Contudo, isto são só as primeiras 24 horas de “desmame”. Será que vou ressacar forte e feio?

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