Alerta férias: o desporto escolar

1. Um trabalho do PÚBLICO do passado dia 12, dedicado ao desporto escolar, captou a nossa atenção, desde logo pelo título: “Ministério quer desporto escolar mais ligado às federações desportivas.” Ui! É sempre uma reacção a ter em conta quando se anuncia este tipo de medidas, devendo fazer disparar os sinais de alerta. Por isso, fomos procurar eco no texto filosófico subjacente ao título: o Programa Estratégico do Desporto Escolar 2021-2025.

2. Diz o ministro: assumindo-se [o desporto escolar] como base da pirâmide desportiva, a oferta de actividades será alargada e flexibilizada, procurando que todos os alunos experimentem um leque variado de modalidades no seu percurso escolar, a partir das quais poderão construir uma cultura desportiva mais rica, bem como potenciar escolhas pessoais. 

3. Adianta o programa: neste quadriénio, o desporto escolar irá aproximar-se da sua comunidade, através da implementação das melhores práticas previstas no modelo civil, nomeadamente, a possibilidade de o desporto escolar ser realizado em cooperação estreita com instituições externas, como federações desportivas, clubes desportivos locais, autarquias ou instituições particulares de solidariedade social (IPSS), desde a utilização de espaços ou equipamentos desportivos e até, dando autonomia às escolas, para que algumas equipas escolares possam, para além dos professores da escola, ser também acompanhadas por treinadores dos clubes locais.

4. Mais: aprofundamento progressivo do Nível III, assumindo o seu objectivo de aproximar o desporto escolar do desporto federado, e, enquanto verdadeira base da pirâmide desportiva nacional, numa estreita relação com o movimento associativo (a nível local, regional e nacional), garantindo a sua continuidade para além da escola. E as escolas só terão tempos atribuídos para os treinos das equipas de alunos mais avançadas (Nível III) se estas estiverem inscritas em federações desportivas.

5. Confesso a minha ignorância para apreciar o mérito ou demérito desta opção, entre outras, no universo do desporto escolar. Mas algo será inevitável: financiamento e recursos humanos, a diverso título. Estamos preparados para executar a decisão? E, somente pergunto, alguém falou com o subsector federado do desporto?

6. O melhor do Programa Estratégico do Desporto Escolar 2021-25 vem, contudo, na penúltima página: a sua articulação com outras estratégias e planos nacionais. Não pelo Plano do Desporto Escolar em si - aqui tudo bem, é mesmo apenas julgar os méritos e os deméritos - mas pela ruidosa ausência, nesse elenco de estratégias e planos, de um verdadeiro e global plano estratégico para o desporto nacional.

7. Significa, porventura até com boa vontade dos serviços - não se confunda com os políticos -, que o desporto é visionado (quando lhe deitam os olhos) como árvores separadas ou ilhas e não há ninguém que, politicamente, consiga dar um rumo à floresta. Daí, os contínuos e plurilocalizados incêndios.

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