Hidilyn Diaz conquista primeiro ouro olímpico da história das Filipinas e só pensa em comer

Sargento da Força Aérea ascende ao nível de estrelato de Manny Pacquiao e promete tirar a barriga de misérias depois de fazer história em Tóquio, onde superou a prata do Rio 2016.

Depois da prata no Rio 2016, Hidilyn Diaz conquistou o ouro em Tóquio
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Depois da prata no Rio 2016, Hidilyn Diaz conquistou o ouro em Tóquio EPA/JEON HEON-KYUN
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Hidilyn no pódio com a chinesa Qiuyun Liao e a cazaque Zulfiya Chinshanlo Reuters/EDGARD GARRIDO

A halterofilista Hidilyn Diaz garantiu em Tóquio 2020 a primeira medalha de ouro olímpica da história das Filipinas, triunfando na categoria de -55 kg com dois recordes olímpicos - no arremesso, com 127 quilogramas, e no total, com 224 - batendo a chinesa Qiuyun Liao e a cazaque Zulfiya Chinshanlo.

Com 1,58 metros de altura e propensão para ganhar peso, Hidilyn Francisco Diaz voou alto em Tóquio, justificando assim o título de sargento da Força Aérea com que foi distinguida em 2018, após cinco anos de incorporação.

Ainda longe da base, Hidilyn promete desforrar-se dos últimos dois anos de preparação rigorosa, sob o controlo do novo treinador chinês, Gao Kaiwen. E, talvez mais importante, vingar-se da dieta rigorosa a que esteve submetida para poder competir na categoria de -55 kg.

A receita é simples e ninguém impedirá a primeira filipina – agora tão famosa quanto o pugilista Manny Pacquiao – a conquistar o ouro para o arquipélago das mais de sete mil ilhas de cometer um pequeno pecado.

Aliás, Hidilyn Diaz sabe muito bem como quebrar este novo recorde de gula, começando com uma dose reforçada de cheesecake e um incontornável bubble tea, bomba calórica (batido de tapioca com chá, leite ou sumo, açúcar, mel… sem limites à imaginação) muito apreciada na “vizinha” Taiwan.

“Vou comer muito esta noite”, admitiu a nova heroína das Filipinas, com um sorriso rasgado, depois de derrotar a favorita Liao Qiuyun. Curiosamente, a medalha que Diaz conquistou em 2016, no Brasil, altura em que pôs fim ao interminável jejum que se seguiu ao duplo bronze do compatriota Teofilo Yldefonzo, na natação, em 1928 e 1932.

Quinta de seis filhos de Eduardo - um condutor da versão triciclo dos famosos rickshaw filipinos, agricultor e pescador - e Emelita Diaz, Hidilyn tentou diversos desportos, como o basquetebol e o voleibol, antes de uma prima a ter desencaminhado para o halterofilismo.

Na faculdade, enquanto estudava ciências de computação, percebeu que a vocação desportiva era mais forte, o que a levou a uma decisão especialmente fácil depois da conquista da medalha de prata nos Jogos do Rio 2016.

Hidilyn ainda deu nova oportunidade à formação académica, ganhando uma bolsa de estudo em administração de empresas, mas rapidamente percebeu que para chegar ao topo do halterofilismo tinha que dedicar-se totalmente e gerir a carreira de forma absolutamente profissional.

Compromisso agora compensado pelo ouro olímpico, o primeiro de sempre das Filipinas, nação que se rendeu à nova estrela nacional, estatuto que ninguém lhe poderá negar depois de quatro presenças em Jogos Olímpicos: Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020.

Depois de qualificar-se para as finais, fase que falhou em Pequim e em Londres, Hidilyn assumiu que a partir dali só precisava de superar as atletas chinesas. E fê-lo… por um quilograma, falhando apenas uma das seis tentativas.

Agora, com 30 anos, depois de despertar a atenção das grandes marcas multinacionais e patrocinadores, Hidilyn sabe que tem uma missão importante para cumprir e que passará por aumentar a consciência e o interesse dos filipinos pela modalidade e pelos sacrifícios diários que ela exige.

“Foi difícil, porque adoro a gastronomia das Filipinas”, insiste, para explicar a luta que enfrentou para na última década poder competir em quatro categorias diferentes, dos 53 aos 63 kg. Para tanto, chegou a cortar o cabelo para ganhar uns gramas nas pesagens.

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